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Artigo - Barjas Negri - O avanço acelerado da indústria do Interior paulista

Publicada em: 09/06/2025 10:12 - Artigos

O avanço acelerado da indústria do Interior paulista

 

Barjas Negri

 

Em minha tese de doutorado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), intitulada “Concentração e Desconcentração Industrial em São Paulo (1880–1990”, publicada pela Editora Unicamp em 1994, procurei demonstrar como a indústria de transformação paulista foi se deslocando gradualmente da Região Metropolitana de São Paulo para o Interior do Estado, promovendo um processo de desconcentração industrial.

 

Em 1970, a indústria de transformação do Interior Paulista era responsável por 25,3% de todo o valor da transformação industrial do Estado. Em 1985, essa participação subiu para 43,4%, um crescimento de 18,1 pontos percentuais. Esse avanço abrangeu todos os setores industriais, com destaque para os ramos de alimentos, bebidas, vestuário, calçados, madeira, couros e química. Do ponto de vista espacial, o deslocamento industrial foi mais intenso para as regiões administrativas de Campinas e São José dos Campos, seguidas por Ribeirão Preto, Sorocaba e o Litoral.

 

Se o Interior Paulista já possuía uma agricultura forte e diversificada, a indústria passou a desempenhar papel igualmente relevante, contribuindo de forma expressiva para a produção econômica e a geração de empregos, especialmente nos centros urbanos mais populosos.

 

A partir de 1985, o processo de Interiorização da indústria paulista se intensificou ainda mais, impulsionado por expressivos investimentos públicos em infraestrutura: duplicação e prolongamento de rodovias, ampliação da oferta de energia elétrica, distribuição de gás, saneamento básico, além da criação de escolas técnicas públicas e da expansão das universidades estaduais e federais. Esses fatores conferiram nova dinâmica ao Interior, facilitando a atração de investimentos industriais e a formação de força de trabalho qualificada.

 

Paralelamente, o setor agropecuário do Interior, especialmente sua agroindústria, ampliou-se e diversificou-se, aproveitando boas oportunidades nos mercados externos. Esse movimento também atraiu a instalação de indústrias voltadas para o setor agroindustrial, com novas plantas focadas na produção de equipamentos e peças de reposição. Esse avanço foi especialmente perceptível nas regiões de Campinas e Sorocaba.

 

Em 2021, o Interior do Estado passou a responder por 71,6% de toda a produção industrial paulista, acompanhado de um aumento expressivo na ocupação de trabalhadores e no dinamismo do setor de serviços.

 

Quem percorre o Interior Paulista, sobretudo por suas cidades médias, observa com clareza o atual dinamismo da indústria e dos serviços regionais.

 

Se há 50 anos o ABC Paulista (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sulera reconhecido como o berço da indústria automobilística paulista e brasileira, hoje esse cenário transformou-se completamente. As montadoras têm migrado para o Interior do Estado, consolidando o que denominei de “corredor asiático da indústria automotiva do Interior paulista”. São exemplos marcantes: Honda, em Itirapina; GWM Brasil, em Iracemápolis; Hyundai, em Piracicaba; e Toyota, em Sorocaba.

 

 

Barjas Negri foi ministro da Saúde e prefeito de Piracicaba por três gestões

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