O FUZILAMENTO DA FAMÍLIA IMPERIAL.


Às onze horas da noite de 6 de novembro, um grupo de militares havia se reunido na casa do tenente-coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, professor de matemática da Escola Militar da Praia Vermelha e diretor do Instituto dos Meninos Cegos.


O objetivo era tratar dos preparativos para a "revolução". Entre eles estavam o capitão Antônio Adolfo da Fontoura Mena Barreto, os tenentes Saturnino Cardoso e Sebastião Bandeira, o aluno da Escola de Guerra Aníbal Elói Cardoso e o alferes Joaquim Inácio Batista Cardoso. Na conversa, todos se manifestaram de acordo com o uso das armas para depor a Monarquia.


Combinou-se um plano pelo qual os participantes ficariam encarregados de agitar os ânimos nos quartéis, estocar armamento e munição e traçar em detalhes o golpe a ser desfechado nos dias seguintes. A certa altura, porém, Benjamin Constant mostrou-se preocupado com o destino do imperador Pedro II.


— O que devemos fazer do nosso imperador? — perguntou.


Fez-se um minuto de silêncio, quebrado pelo alferes Joaquim Inácio:


— Exila-se — propôs.

— Mas se resistir? — insistiu Benjamin.

— Fuzila-se! — sentenciou Joaquim Inácio.


Benjamin assustou-se com tamanho sangue-frio:


— Oh, o senhor é sanguinário! Ao contrário, devemos rodea-lo de todas as garantias e considerações, porque é um nosso patrício muito digno.


Por uma ironia da história, o “sanguinário” Joaquim Inácio Cardoso, então com 29 anos, viria a ser avô de um futuro presidente da República, o manso Fernando Henrique Cardoso. Para fortuna de Pedro II, no dia 15 de novembro haveria de prevalecer a posição de Benjamin. Em vez de fuzilado, como queria Joaquim Inácio, o imperador seria despachado para o exílio.


“Vocês fizeram a República que não serviu para nada. Aqui agora, como antes, continuam mandando os Caiado”


CAPITÃO FELICÍSSIMO DO ESPÍRITO SANTO CARDOSO, bisavô do presidente Fernando Henrique Cardoso, em telegrama enviado de Goiás ao filho, Joaquim Inácio, que ajudara a proclamar a República em 1889


               Júnior Sá.

Colunista e Historiador.

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