Por Rafael Bitencourt
Com o objetivo de trazer à tona a vivência de pessoas com hanseníase e promover reflexões, a exposição “A Cerejeira não é Rosa – vivência poética no Asilo-Colônia Pirapitingui” será aberta na próxima sexta-feira, 11 de agosto, no Hospital Regional de Piracicaba. A entrada é gratuita. O projeto foi contemplado pelo ProAC (Programa de Ação Cultural) e é realizado pelo Governo do Estado de São Paulo; Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas; e Engenho Cultural.
A mostra reúne fotografias e vídeos captados por Flávio Torres com o intuito de fomentar o ensino, a cultura e a arte e combater o preconceito e o desconhecimento quanto a uma doença que ainda existe nos dias atuais. A curadoria é de Tânia Lima Barreiro, com pesquisa de Renata Gava, montagem de Esdras Casarini e expografia de Rodrigo Santos.
A exposição itinerante evidencia as experiências de pessoas que foram internadas compulsoriamente para tratar a hanseníase no antigo Asilo-Colônia Pirapitingui, que iniciou suas atividades em 1931 no município de Itu (SP) para tratamento da doença, vista com preconceito no período, o que fez com que fosse imposto isolamento aos doentes. No local em Itu, os pacientes geravam relações sociais entre si, motivadas, muitas vezes, pela perda de contato com os familiares.
Na época, em que não havia tratamento e a forma de contágio era desconhecida, os doentes, chamados de “leprosos” eram alvo de repulsa e considerados pessoas “amaldiçoadas”. Uma vez contaminadas, muitas pessoas eram rejeitadas pelas famílias e acabavam deixando suas residências e sobrevivendo às custas de esmolas.
“A exposição vem para trazer à tona e relembrar pessoas que carregam consigo histórias marcantes que tocarão o público, por meio das artes visuais e em simbólicos reconhecimento e salvaguarda de contextos de vida tão marcantes, significativos e que não mais serão inviabilizados”, afirma a curadora Tânia Lima Barreiro.
Asilo-Colônia Pirapitingui
O Pirapitingui foi um dos Asilos-Colônias implantados no estado de São Paulo na década de 1930, construídos a partir do modelo hospitalar de isolamento de pessoas com hanseníase (doença chamada anteriormente de lepra), adotado em diferentes locais do mundo a partir do fim do século XIX.
O espaço em Itu começou a receber os primeiros doentes em 1931, apesar de ter sido oficializado como asilo em 1933 e inaugurado em 1937, quando já reunia mais de 1.400 internos. Na maior parte dos casos, as internações eram feitas contra a vontade dos pacientes, conduzidos pela polícia após apresentarem manchas na pele, consideradas suspeitas, o que gerava denúncias de vizinhos e até de familiares. O local abriga hoje o Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes.