A fundação do Colégio do Caraça
Em 1819 chegaram ao Rio de Janeiro dois padres portugueses pertencentes à Congregação da Missão – ordem religiosa fundada na França por São Vicente de Paulo, e que também é conhecida como ordem dos ‘lazaristas’. Eram eles o Padre Leandro Rebelo Peixoto e o Venerável Antônio Ferreira Viçoso – que futuramente se tornaria Bispo de Mariana, e que atualmente está em processo de beatificação. O rei Dom João VI cedeu a eles o conjunto do Caraça, que havia recebido em testamento do Irmão Lourenço, e conferiu-lhes a missão de fundar ali um colégio. (no período 1820/1834, mais de 1.500 alunos foram matriculados), outros padres vieram da Europa para ministrar aulas, e, durante quase três décadas, o local abrigou também o Seminário Maior de Mariana, com aulas de teologia e Filosofia.
Tido como a primeira instituição privada em Minas, de 1820 a 1842, o Caraça abrigou um Colégio (iniciado com quatro alunos em 1820 e oficialmente aberto em 1821 com 14 alunos) e um Seminário para aqueles que queriam ser Lazaristas como os Padres fundadores. Em 1842, Padre Viçoso levou para Campo Belo da Farinha Podre (hoje Campina Verde-MG), o Colégio, vários alunos, escravos, livros e outros bens. Esta transferência ocorreu devido às ameaças revolucionárias e à insurreição da Província de Minas contra o Império. A viagem de 700km começou no dia 24 de agosto de 1842, alguns dias depois da derrota de Teófilo Otoni pelos legalistas de Caxias em Santa Luzia-MG, o que, infelizmente, não tinha chegado aos ouvidos dos Padres do Caraça.
Em 1854, por causa da epidemia de varíola em Mariana, seu Seminário Maior (Filosofia e Teologia) foi transferido para o Caraça, retomando, depois de 12 anos fechado, sua tradição educacional. Estando novamente aberto, o Caraça voltou a receber alunos a partir de 1856. Esta nova fase do Colégio só terminaria em 1912, quando o Colégio do Caraça, enquanto colégio propriamente civil, fechou suas portas.
Em 1882, um ano antes da inauguração do belo templo neogótico, construído também para facilitar o ensino e a prática litúrgica dos seminaristas de Mariana, o Seminário Maior voltou para sua sede diocesana. De 1885 a 1895, abriu-se, junto ao Colégio, a Escola Apostólica, para a educação de meninos que queriam ser Padres Lazaristas.
Sob a égide do ultramontanismo, do qual Mariana foi, no Brasil, um importante centro irradiador, em especial sob a liderança de dom Viçoso, confirmam-se os estudos que apontam a pujança dessa corrente político-teológica
em Minas Gerais, em especial com a chegada de religiosos e freiras lazaristas - ordem religiosa vicentina, que tinha como objetivo primeiro fazer a expansão das missões populares, atuando na educação e na formação dos meninos em colégios e seminários, como os acima citados. Foi sobre a orientação dessas instituições, voltadas para melhorar a formação dos sacerdotes que se prepararam, em suas fileiras, os agentes mais significativos da reforma católica ultramontana no Brasil.
Nesse período, aconteceu a formação de parte considerável do clero brasileiro nas instituições escolares católicas sediadas em Minas Gerais, como o Seminário de Mariana, o do Caraça e de Diamantina, organizações que formaram padres e primavam pela moral dos sacerdotes, culminando numa reforma do clero brasileiro.
A formação nessas casas de instrução estava marcada pelas correntes religiosas e pelo ideário, que tinham como parâmetro para o processo formativo do clero e da sociedade em geral. Nos colégios, todos seriam formados na mesma teologia e na mesma concepção política (ultramontana), seja o clero, seja o homem secular, pois com a tenra idade com qual se adentravam nesses espaços, não se sabia quem teria a vocação sacerdotal ou a secular. Ainda que o laicismo estivesse longe dessas paragens, os seminários também formavam o leigo para a sociedade. Portanto, todos eram formados como parte do clero. Formava-se o bom e ortodoxo católico.
Ao longo do período em que o Colégio do Caraça esteve ativo, foram educados ali alguns grandes nomes da vida pública brasileira, e inclusive dois ex-alunos tornaram-se presidentes da República: Afonso Pena e Arthur Bernardes.
Fonte : Brazil Imperial.
Júnior Sá.
Colunista e Historiador.