Com mais de 30
Bom dia, caros leitores!
Saúde e paz para nós!
As manchetes na última semana
trouxeram à tona um assunto no mínimo estranho, tratando-se de século 21: o
preconceito com os que tem mais de 30 anos...
Aproximando-me de me tornar “sex” (sexagenária),
como dizia meu querido pai, confesso que isto me chamou a atenção. Afinal de
contas, desde quando se tornou incapacitante nos tornarmos mais velhos? Vamos
tentar pensar um pouco a respeito.
Lembrei-me da genial letra da música Com
Mais de 30 de Marcos Valle e que reproduzo ao final do artigo. A música era um hino à
rebeldia juvenil da década de 1970, portanto, há 50 anos, plena ditadura
militar e os jovens, como sempre se imagina, rebelavam-se contra a falta de
liberdade, não apenas política, mas da liberdade de poderem se manifestar como
bem entendessem, serem como bem entendessem.
Muita coisa mudou de lá para cá, mas
depositar na juventude a esperança de trazerem o novo ainda é algo muito comum,
aliás, esperado. As novas gerações sempre nos brindam com novas ideias, novas
formas de compreender o mundo e viver a vida.
Então, me pergunto o que será que levou
algumas jovens a hostilizarem uma colega de sala de aula só porque ela tinha 45
anos...
Talvez a resposta esteja na crescente falta
de convívio entre diferentes gerações. Foi-se a época em que avós conviviam
diariamente, até na mesma casa, com os netos.
Mas alguém pode argumentar que, hoje, os
avós são tão atuantes, totalmente diferentes dos avós de 50 anos atrás, quando
ser sexagenário era sinônimo de sermos senhores aposentados, lendo jornal ou
dormindo o dia todo na poltrona da sala de TV, tricotando ou simplesmente não
fazendo nada! Os avós de hoje não deveriam ser referências positivas do que é
ser mais velho?!
É verdade que este tipo de avô e avó que
se aposentam e não tem uma vida produtiva, criativa e até agitada, já quase não
existe. Aos 60, ainda trabalhamos e muito, somos cheios de sonhos e com muita
ânsia de viver! Então, o que explica o tal etarismo – preconceito contra
pessoas por causa de sua idade?
A resposta não é tão simples, mas eu
resumiria numa única coisa: falta de Educação! Não apenas a educação dos modos
– ofender alguém só porque não concordo com a pessoa, mas a Educação que nos
ensina a pensar, a considerar o diferente como possibilidade de aprendizado de
algo novo, que nos mostra que não sabemos tudo!
Vivemos em tempos bem paradoxais. Se de um
lado temos os que morrem de medo do novo, do diferente e por isso atacam tudo
que lhes pareça diverso do que estão acostumados, por outro, temos os que
defendem a diversidade, a inclusão do diferente, numa busca pela abundância de
possibilidades de entender, ver, ser, viver.
A música de Marcos Valle envelheceu, ficou
obsoleta. Muitas pessoas com mais de 30, hoje, são antenadas, conectadas com o
que há de mais amplo e profundo na vida! Até mesmo o mercado de consumo se
voltou para os maiores de 50 e 60, pois entenderam que é um segmento promissor,
rentável e imenso!
Os questionamentos obrigatórios aqui, se
não quisermos ser ultrapassados como o que está por trás da letra de Marcos
Valle e na atitude das infelizes jovens universitárias que ofenderam a colega
mais velha são: tem idade certa para aprender? Tem idade adequada para buscar
saber mais? Tem idade ideal para se realizar e ser feliz?
Meus queridos leitores, chegando aos 60,
devo confessar a vocês que não me faltam planos e nem energia para realizá-los!
Hoje entendo a frase: “não troco a cabeça que tenho hoje por nada!” E sabe por
quê?! Porque meu corpo tem 60, mas minha alma continua ávida por saber e
conhecer, livre, leve e solta para ser exatamente quem ela é! E isto é
delicioso!
Se você se incomoda com os “velhos” que
não tem medo de serem felizes, cuidado! Pode ser que quando você chegue lá,
acabe se privando de viver a melhor fase da sua existência!
Ótimo dia, cheio de muita harmonia para
vocês!
Bia Mattos
Psicóloga CRP 06/29269
Colunista: Maria Beatriz da Silva Mattos
Psicoterapeuta, Supervisora Clínica, Orientadora Vocacional, Facilitadora nos Cursos de Pós-graduação em Psicologia Transpessoal da Unipaz São Paulo e Paraná. Autora dos livros Espiritualidade em Psicologia: Psicossíntese, uma Psicologia com Alma e Orientação Vocacional - Uma Proposta Transpessoal.
Com Mais de Trinta
Marcos Valle
Não confie em ninguém com mais de
trinta anos
Não confie em ninguém com mais de
trinta cruzeiros
O professor tem mais de trinta
conselhos
Mas ele tem mais de trinta, oh
mais de trinta
Oh, mais de trinta
Não confie em ninguém com mais de
trinta ternos
Não acredite em ninguém com mais
de trinta vestidos
O diretor quer mais de trinta
minutos
Pra dirigir sua vida, a sua vida
A sua vida
Eu meço a vida nas coisas que eu
faço
E nas coisas que eu sonho e não
faço
Eu me desloco no tempo e no
espaço
Passo a passo, faço mais um
traço, faço mais um passo, traço a traço
Sou prisioneiro do ar poluído
O artigo trinta eu conheço de
ouvido
Eu me desloco no tempo e no
espaço
Na fumaça, um mundo novo faço,
faço um novo mundo na fumaça
Não confie em ninguém
Composição: Marcos Valle / Paulo
Sérgio Valle.