O Negro na Colonização do Rio Grande do Sul
"É de afirmar-se que a presença do Negro no Rio Grande do Sul tenha-se verificado em fins de 1635, quando irrompeu, nos vales dos rios Taquari e Jacuí, a bandeira de Raposo Tavares, composta de 20 portugueses, 10 escravos e 1.000 índios tupis.
Isto, 100 anos antes da fundação oficial da cidade atual do Rio Grande pelo Brigadeiro José da Silva Paes, em 1737.
É possível mesmo, que o Negro tivesse entrado anteriormente a esta data, pois
Jaime Cortesão observou que, por ocasião do assalto às missões jesuítas do Rio Grande
do Sul, por Raposo Tavares, já existiam entre os índios alguns mestiços, filhos de
aventureiros paulistas e de Santa Catarina.
Esta e outras bandeiras percorreram o norte do Rio Grande do Sul, de 1635-41, expulsando os jesuítas que se haviam estabelecido na margem direita do rio Uruguai , desde 1626,
com a fundação da redução de São Nicolau pelo padre Roque Gonzales.
A presença do Negro nas bandeiras do sul é hoje comprovada. A célebre bandeira que fundou Laguna, em Santa Catarina, em 1684, partira de São Vicente, por terra, integrada por 50 escravos pretos e 10 brancos. Isto, 44 anos após a vinda da última bandeira paulista ao Rio Grande do Sul.
Se nesta mais de 70% dos integrantes eram negros, Alcântara Machado afirmou que Domingos Brito Peixoto, o fundador de
Laguna, dispôs para esta aventura, "... de vestuário e todo o mais necessário para o
grande corpo formado de homens brancos, mulatos e negros escravos ..." e
prossegue ao falar do cabo da tropa de uma bandeira: "Seja pessoa de governança da terra ou sertanista experiente e ilustre, que
encabeça uma bandeira de grandes proporções, composta de gente de qualidade, seja índio domesticado que, em troca de uma espingarda, vai à frente de meia dúzia de
Negros, com armação alheia, para trazer ao patrão a gente adquirir.
Pelo texto transcrito conclui-se que
existiram negros que comandaram bandeiras de preia aos índios, armadas por seus
patrões.
Em 1680, os portugueses partindo do Rio de Janeiro fundaram Colônia do Sacramento no atual Uruguai. A expedição foi comandada por D. Manuel Lobo e constituída, entre outros
elementos, por 200 militares, 3 padres, 60 negros, dos quais 41 escravos do comandante, 6 mulheres índias e uma branca e índios.Os negros representaram mais de 20% do total da expedição.
Durante o período 1684-1725, ou sejam, 41 anos, estes negros, mulatos e outros seriam a massa principal para a penetração dos lagunenses no território do Rio Grande do Sul atual.
É possível que negros e mulatos da Frota de João de Magalhães figurassem entre os primeiros estancieiros gaúchos estabelecidos, a partir de 1733, com suas estâncias no Rio Grande do Sul, nos vales dos rios Capivari, Gravataí, Sinos, Caí e Jacuí.
Segundo Guilhermino Cesar, "negros participaram, conforme prova documental,
da expedição comandada pelo Brigadeiro Silva Pais , 1737, o fundador do presídio militar
do Rio Grande." Ali desembarcou na cidade de Rio Grande atual, na tardinha de 19 de fevereiro de 1737, e fundou o primeiro estabelecimento oficial português, início da definição de um Rio Grande do Sul brasileiro.
O Negro e descendentes estiveram presentes entre os 160 homens do grande
sertanista e tropeiro, coronel de Ordenanças, Cristóvão Pereira de Abreu, que aguardavam o desembarque em terra, e entre os 260 homens desembarcados com o Brigadeiro Silva Pais." Fonte: O NEGRO E DESCENDENTES NA SOCIEDADE DORIO GRANDE DO SUL (1635 – 1975)Coronel CLÁUDIO MOREIRA BENTO. Ilustrações de Jean Baptiste Debret, 1822-1834
Júnior Sá.
Colunista e Historiador.