Assim que soube da morte da imperatriz Teresa Cristina, em 28 de dezembro de 1889, o visconde de Ouro Preto, também exilado em Portugal, foi visitar D. Pedro II no Grane Hotel do Porto acompanhado de seu filho, Afonso Celso, para prestar suas condolências ao monarca deposto. Encontraram o Imperador lendo, com a cabeça apoiada numa das mãos. “Eis o que me consola”, disse ele, apontando para o livro que lhe distraia a mente, uma nova edição de “A Divina Comédia”. Debateram sobre vários temas acerca da obra de Dante, sem trocar uma palavra acerca da morte da soberana. Apenas ao final da conversa, D. Pedro indicou onde ficava a câmara mortuária com o corpo daquela que foi sua companheira por 46 anos. Quando saíram do quarto, os visitantes se depararam com o soberano “ocultando o rosto com as mãos magras e pálidas”. O Imperador, que até pouco tempo tentava se manter forte, chorava. “Por entre os dedos corriam-lhe as lágrimas, deslizavam-lhe ao longo da barba nívea e caíam sobre as estrofes de Dante”, recordou Afonso Celso. 

Segundo Heitor Lyra (2021, p. 953), D. Pedro teria dedicado este versos a D. Teresa:


Corda que estala a harpa mal tangida,

Assim te vais, ó doce companheira

Da fortuna e do exílio, verdadeira

Metade de minh’alma entristecida!


De augusto e velho tronco haste partida

E transplantada à terra brasileira,

La te fizeste a sombra hospitaleira,

Em que todo infortúnio achou guarida.

Feriu-te a ingratidão no seu delírio;

Caíste, e eu ficaste a sós, neste abandono,

Do teu sepulcro vacilante círio!


Como foste feliz! Dorme o teu sono...

Mãe do povo, acabou-se o teu martírio;

Filha de reis, ganhaste um grande trono!


Depois de embalsamado, o corpo da Imperatriz foi exposto na Igreja da Lapa, no Porto. De acordo com o depoimento de Benedita de Castro para a esposa de Eça de Queirós: “O enterro da Imperatriz foi um acontecimento. Foi feito com muito respeito e todos mostraram muito sentimento”. Incrédulo, D. Pedro II escreveu que “abriu-se na minha [vida] um vácuo que não sei como preencher. [...] Nada pode exprimir quanto perdi: que noite vou passar! Dizem que o tempo tudo desfaz! Mas poderei viver tempo igual ao da minha felicidade?”.


           Júnior Sá

Colunista e Historiador

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