Ser feliz!

 

     Bom dia a todos!

     Ao longo dos anos, atendendo pessoas nos mais diversos estados emocionais, observo algo que considero importante refletir a respeito: o permitir-se ser feliz.

     Pode parecer estranho, mas acredite, muita gente não se permite ser feliz, mesmo que a felicidade esteja bem em frente da pessoa! Ela simplesmente se nega a sentir, a se permitir experimentar e usufruir deste estado de alma.

     E quando buscamos entender a razão disso, o argumento costuma ser o mesmo: a pessoa não pode se sentir feliz pois outros fatos, menos felizes e inclusive infelizes, estão acontecendo concomitantemente na vida delas e as faz sentir culpa caso resolvam deixar-se levar por algo tão bom quanto a felicidade.

     Este é um argumento absolutamente compreensível, no entanto, a vida é dinâmica e dificilmente se apresentará ora totalmente feliz, ora totalmente infeliz. Tudo acontece ao mesmo tempo. Nem sempre percebemos, mas a herança cultural e religiosa que nos atinge de forma sutil e muitas vezes inconsciente, leva-nos a estados de culpa e medo sem que o percebamos. Vejamos como isto se dá.

     Fazemos parte de uma cultura da culpa: se não amamos nossos pais, sentimos culpa. Se não correspondemos a alguma expectativa de alguém que gostamos ou admiramos de algum jeito, sentimos culpa. Se não queremos fazer algo que irá decepcionar alguém, sentimos culpa. E assim se dão “n” situações: discordo do pai, sinto culpa! Fui pouco cordial com o empacotador do mercado, sinto culpa! Disse não para o desejo do filho, sinto culpa. Chamei a atenção da funcionária, sinto culpa! Não quero ver o amigo que diz sentir saudades, sinto culpa! UAU! Quanta culpa!!!

     Pode não parecer, mas somos educados para sentirmos culpa, para ceder ao desejo do outro, mesmo que o nosso seja diferente. E aqui, uma ressalva fundamental: não se trata de não reconhecer quando realmente somos responsáveis por algo desagradável ou ruim que fizemos! Não estou sugerindo que sejamos frios, irresponsáveis ou desenvolvamos traços psicopáticos. Não é isso!

     A culpa é um sentimento que paralisa em dada circunstância a qual nos ensinaram ser feio agir daquele jeito. O problema é: feio para quem? Feio em que sentido e a partir de qual princípio ético? A culpa é um mecanismo de controle e autocontrole, mas de forma muito repressora e opressora.

     A solução? Aprendermos a responder pelo que fazemos, sermos responsáveis por nossos atos e não nos sentirmos culpados. A diferença é imensa! Quando respondo por algo, estou admitindo que agi de determinada forma e que arcarei com as consequências disto. E seguirei a vida, tentando não repetir aquilo que compreendi não ser bom, adequado ou coerente com o que entendi ser bom ou correto.

     O problema da culpa é que quem é culpado merece castigo. É esta a ideia por trás da culpa, há uma relação direta culpa-castigo em nosso inconsciente. E ninguém gosta de ser castigado. E nem deve gostar mesmo! Por isso a paralisia que a culpa traz: se eu assumir o que fiz, se eu me expuser, serei castigado por aquilo.

     E por conta das culpas que sentimos, vamos “engolindo uma lagoa inteira de sapos”, aprendendo a mentir, a não nos darmos o direito de dizer não e sentir alegria e felicidade mesmo quando há algo que não está tão bem assim. Não mereço sentir felicidade, mereço castigo pelo que fiz – este é o raciocínio do culpado!

     Então, se você se sente assim, pare, respire e olhe com a maior tranquilidade que conseguir para a situação que despertou a culpa em você e pense: como posso fazer diferente? Era possível fazer diferente? Será que o que fiz merecia tanta reação por parte do outro? Será que é tão grave assim ou é a outra pessoa que se ressente com tudo? (Sobre este último caso – os ressentidos – falaremos num próximo momento). E após refletir e ponderar, assuma as responsabilidades que são suas, devolva as que não são para quem seja de direito e siga! A vida não espera! A felicidade vai embora, ou como disse Caetano Veloso em seu hit Felicidade:

 

Felicidade foi-se embora

E a saudade no meu peito ainda mora

E é por isso que eu gosto lá de fora

Porque eu sei que a falsidade não vigora

 

     Seja honesto consigo. Assuma o que é seu e faça os ajustes que parecerem necessários, mas por favor, não deixe de ser feliz! Neste planeta em que vivemos, a nave mãe Gaia, não existem seres perfeitos. Todo mundo erra, eu erro, você erra, seus pais erram. E está tudo bem, desde que eu simplesmente reconheça, assuma as consequências e mude o rumo dos passos! A felicidade daquele momento, daquele jeito que você não se permitiu viver, talvez não volte...

     Paz e Bem pra você!

      Bia Mattos

     Psicóloga CRP 06/29269



Colunista: Maria Beatriz da Silva Mattos

Psicoterapeuta, Supervisora Clínica, Orientadora Vocacional, Facilitadora nos Cursos de Pós-graduação em Psicologia Transpessoal da Unipaz São Paulo e Paraná. Autora dos livros Espiritualidade em Psicologia: Psicossíntese, uma Psicologia com Alma e Orientação Vocacional - Uma Proposta Transpessoal.

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