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Coluna: Adriana Passari fazendo histórias - 06-06-2025

Publicada em: 06/06/2025 07:28 - Colunas Adriana Passari fazendo histórias

Por Adriana Passari - @adrianapassari

 

Custódia

 

O fazendeiro estava todo animado com a visita que vinha chegando. Era seu filho doutor, recém formado na faculdade e que vinha agora acompanhado para apresentar a namorada para a família. Preparou com carinho a charrete onde levou o filho e a nora para passear pela propriedade.

Ele mesmo conduzindo as rédeas dos animais, todo orgulhoso apresentando a ela cada cantinho da propriedade: o lago, o deque da pescaria, o pomar, o pasto, os piquetes onde ocorria toda a lida com o gado. Foi um dia ótimo para todos. No meio da tarde foi a hora do passeio a cavalo.

Foram os quatro, cada um em uma montaria: o fazendeiro, a fazendeira, o filho e a nora. A passos firmes e sem pressa passaram por um córrego que deixaram a moça assustada, mas sob o olhar divertido do fazendeiro a travessia transcorreu sem problemas. O destino do passeio era fazer uma visita para Custódia, a preta velha que morava numa casinha de barro incrustada no meio da imensa propriedade.

Ela já estava lá antes mesmo da compra da fazenda. “Veio junto com o pacote”, dizia galhofando aquele homem de hábitos tão simples que ninguém lhe adivinhava o tamanho da fortuna. Chegando lá, a velha surgiu descalça, na porta da choupana, apressando a sua porca de companhia chamada Idalga. Gorda como ela só (a porca, não a velha).

Imagem criada por IA

As duas dividiam o mesmo teto e a rotina na beira do fogão de lenha e na lida com as vacas e bois que circulavam nos arredores da casa. Ao ver a comitiva chefiada pelo patrão chegando, já foi logo adivinhando: e não é que o patrãozinho também veio dar as caras pra esta preta velha? E pra quando são os docinhos? Perguntou a cabocla sem ser completamente entendida. A conversa seguiu animada e logo ao final da tarde todos partiram mais felizes do que chegaram, levando aquela paz que só os mais simples conhecem. Alguns meses depois, a moça nora do patrão pegou barriga. O casamento foi ajeitado, apressado e abençoado. Na hora de cortar o bolo, com a mesa cheia de doces variados, foi que o jovem casal todo animado entendeu o recado. A hora dos docinhos havia chegado.

 

Ouça a história na voz de Adriana Passari:

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