O Papel do Vereador: Compreender para
Cobrar de Forma Eficaz
Ronaldo Castilho
A população frequentemente procura
vereadores para resolver problemas locais, como buracos nas ruas, poda de
árvores ou iluminação pública. Essas demandas, embora importantes, não são
responsabilidade direta do vereador. Esse descompasso reflete o desconhecimento
sobre as funções dos órgãos públicos, gerando frustrações e desviando o
vereador de seu papel fundamental.
O vereador é, sobretudo, um fiscal do
Executivo. Sua função é monitorar a execução do orçamento e assegurar que os
serviços públicos sejam realizados de forma eficiente. Embora possa encaminhar
reclamações ao setor adequado e cobrar providências, a execução das ações cabe
ao Executivo. Essa distinção é essencial: o vereador atua como intermediário e
fiscalizador, não como executor dos serviços.
É natural que os cidadãos vejam os
vereadores como o primeiro ponto de contato, pois são representantes diretos da
comunidade. No entanto, em casos específicos, é mais eficaz que a população
procure diretamente as secretarias municipais, os canais de atendimento da
Prefeitura ou aplicativos de ouvidoria. Isso agiliza o encaminhamento da
demanda ao setor competente, tornando o processo mais eficiente.
Então, qual é o verdadeiro papel do
vereador? Em primeiro lugar, está a função legislativa: ele propõe, discute e
vota leis que impactam diretamente a vida dos cidadãos. Isso inclui a criação
de novas leis e a revisão de leis antigas em temas como saúde, educação,
transporte e urbanização. Em segundo lugar, está a função fiscalizadora, que
consiste em acompanhar o uso do dinheiro público e a gestão da Prefeitura.
Nesse sentido, o vereador verifica se os recursos estão sendo usados
adequadamente, contando com o auxílio do Tribunal de Contas ou de comissões
especiais, quando necessário.
Outra função importante é a
representativa. Como eleitos, os vereadores recebem demandas, queixas e
sugestões dos moradores e as trazem para discussão na Câmara, servindo como uma
ponte entre a população e a administração pública. Isso os torna fundamentais
para que a voz da comunidade seja ouvida no debate político e administrativo.
Os vereadores também exercem uma função
deliberativa e judiciária: podem aprovar ou rejeitar projetos do Executivo e
têm o poder de realizar julgamentos internos, como em casos de conduta
inadequada de seus membros ou de integrantes da administração. Além disso,
participam de comissões temáticas (como saúde, educação ou transporte), nas
quais analisam profundamente os projetos antes de serem debatidos no plenário,
promovendo uma análise detalhada das propostas.
A transparência é outra peça-chave do
trabalho dos vereadores. As sessões da Câmara são públicas e, em muitos
municípios, transmitidas ao vivo pela internet ou televisão. Isso aproxima a
população da atuação parlamentar, garantindo que o trabalho dos vereadores seja
visível e acessível a todos — mas, infelizmente, poucas pessoas acompanham as
sessões.
Compreender o papel dos vereadores é
essencial para uma cobrança eficaz e coerente. Conhecer as atribuições
específicas do Legislativo e do Executivo nos dá ferramentas para exigir que
cada órgão cumpra seu papel. Esse entendimento, aliado à participação popular,
fortalece a democracia, tornando-a mais representativa e funcional. A
construção de uma cidade melhor começa pelo envolvimento da população, que deve
acompanhar, fiscalizar e, acima de tudo, entender o papel de cada órgão.
Vejo o papel dos legisladores como
essencial para a construção de uma "ética de responsabilidade" na
política. Defendo que o legislador local, como o vereador, deve pautar-se pela
racionalidade e pelo compromisso com o bem público. Ele precisa equilibrar as
demandas imediatas da população com uma visão de longo prazo e agir de forma
responsável, usando o poder para alcançar resultados concretos que beneficiem a
comunidade. Acredito que a educação política é vital para que a população
exerça um papel ativo na sociedade, e o poder local é um espaço fundamental
para isso. O envolvimento dos cidadãos em assuntos municipais, muitas vezes
intermediados pelos vereadores, fortalece a liberdade e a responsabilidade
cívica.
O papel do vereador é formar
politicamente a população, demonstrando boa governança e incentivando a
participação cívica. No entanto, não se deve aceitar que o plenário seja
transformado em um “ringue de MMA”; os vereadores devem agir com civilidade e
respeito mútuo, elevando o debate político e contribuindo para uma sociedade
mais justa e participativa.
Ronaldo Castilho é jornalista e bacharel
em Teologia e Ciência Política