Americanos escolheram por um governo de
transição
Ronaldo Castilho
Os americanos enviaram uma mensagem
clara nas eleições deste ano, ao escolherem o republicano Donald Trump como o
47º presidente dos Estados Unidos. Embora se trate de um mandato de transição,
já que Trump não poderá concorrer novamente em 2028 devido à 22ª Emenda, que
limita os presidentes a dois mandatos, a vitória dele reflete o desejo de
restaurar as bases políticas e sociais que, segundo seus apoiadores, foram
negligenciadas durante o governo Biden. Esse mandato se concentrará, portanto,
na estabilização econômica, com um foco particular no combate à inflação, um
dos principais pontos abordados durante a campanha.
Entre 2017 e 2020, a administração Trump
adotou diversas políticas econômicas que impactaram a inflação e a economia
americana. A primeira medida significativa foi a aprovação da Lei de Cortes de
Impostos e Empregos, que cortou impostos para empresas e indivíduos, buscando
estimular o crescimento econômico e aumentar o poder de compra das famílias.
Embora tenha impulsionado o consumo e os investimentos, essa redução tributária
também resultou em um aumento do déficit federal. O efeito direto sobre a
inflação foi limitado, principalmente devido à capacidade ociosa da economia, o
que evitou aumentos significativos nos preços.
Além disso, o governo Trump impôs
tarifas sobre produtos importados da China e de outros países, o que aumentou
os custos de importação para empresas americanas. Isso teve um impacto direto
nos preços de diversos produtos, como eletrônicos, bens de consumo e produtos
agrícolas. Apesar desse aumento de custos, a inflação global permaneceu
relativamente baixa, devido a fatores como o dólar forte e a desaceleração da
economia mundial, que ajudaram a atenuar os efeitos inflacionários das tarifas.
A administração também promoveu o aumento da produção doméstica de petróleo e
gás, o que ajudou a reduzir os custos de energia, mantendo a inflação sob
controle ao reduzir o custo do transporte e da produção em diversos setores.
A pandemia de COVID-19 em 2020 trouxe
desafios econômicos imensos. O governo Trump implementou pacotes de estímulo
econômico, incluindo auxílios emergenciais para cidadãos e empresas, com foco
em evitar uma recessão profunda. Embora esses pacotes tenham sido essenciais
para a recuperação econômica, o impacto sobre a inflação foi mínimo devido à
queda na demanda em muitos setores, que gerou deflação em alguns produtos.
Apesar dessas medidas, o eleitorado
americano decidiu não renovar o mandato de Trump em 2020, optando por Joe
Biden, do Partido Democrata, para enfrentar os desafios econômicos e sociais da
pandemia. Durante seu mandato, Biden tomou ações para mitigar a inflação, que
atingiu níveis elevados nos EUA. O governo Biden implementou pacotes de
estímulo para apoiar a economia durante a crise da COVID-19. Embora esses
pacotes tenham impulsionado a recuperação, também geraram uma pressão adicional
sobre a demanda, contribuindo para o aumento dos preços.
Biden também enfrentou problemas nas
cadeias de suprimentos, especialmente em setores críticos como semicondutores e
transporte marítimo, o que exacerbou a escassez de produtos e o aumento de
preços. Mesmo com ações para resolver esses gargalos, a inflação permaneceu uma
preocupação central ao longo de seu mandato. Em julho de 2023, o presidente
Biden destacou que a inflação havia caído para seu nível mais baixo desde março
de 2021, mas os preços ainda eram uma grande preocupação para os eleitores,
influenciando o cenário político e as eleições de 2024.
Agora, com a vitória de Trump em 2024,
ele enfrentará um cenário econômico desafiador, com inflação e juros elevados.
Economistas projetam que a inflação possa continuar em ascensão, o que exigirá
ações robustas para estabilizar a economia. Trump deve retomar políticas
rigorosas de controle de fronteiras, incluindo a construção do muro na
fronteira sul, uma promessa não cumprida em seu primeiro mandato. Sua postura
política tende a ser mais isolacionista, com foco na priorização dos interesses
americanos e renegociação de acordos internacionais considerados desfavoráveis.
As relações com a China provavelmente
serão tensas, especialmente em áreas comerciais e tecnológicas, enquanto o
relacionamento com a Rússia dependerá do contexto geopolítico. Com o controle
do Senado e da Câmara dos Representantes pelo Partido Republicano, Trump terá
mais facilidade para aprovar sua agenda legislativa. O seu segundo mandato
poderá ser marcado por uma abordagem mais assertiva nas políticas internas e
externas, com foco na implementação de sua agenda conservadora e na proteção
dos interesses dos Estados Unidos no cenário global.
Ronaldo Castilho é jornalista e bacharel
em Teologia e Ciência Política