Por Adriana Passari - @adrianapassari
Primeiro amor
Todo fim de ano a família passava na praia, no apartamento da vovó, que já não frequentava a cidade há muito tempo. As últimas semanas do ano eram sempre dedicadas para as férias de todos, onde passavam as festas de Natal e Ano Novo. Depois de crescida, ela ficou encafifada para saber como o pai e a mãe conseguiam esconder os presentes que o “papai Noel” trazia no mesmo porta-malas onde carregavam as bagagens das quatro filhas, dois adultos e os mantimentos que garantiam a alimentação de todos no período. Certa vez, um patinete foi a surpresa do Noel e até hoje é um mistério imaginar como ele chegou até lá sem que ninguém desconfiasse. Isso tudo em tempos muito anteriores às entregas pela internet. Aquelas viagens faziam enriquecer a memória da família. Certa vez, decidiram baixar os bancos dos passageiros do velho Passat e transformar em uma grande cama para todas viajarem deitadas, assim podiam dormir e as horas de estrada passariam depressa. A viagem foi incrível. As malas foram distribuídas em todos os cantos do carro onde cabiam. No espaço central foram estendidos cobertores fazendo as vezes de colchão. Muitos travesseiros espalhados e lá se foram a caminho das férias. Claro que naquele tempo o cinto de segurança dos carros era considerado um acessório de pouca utilidade. Naquela mesma época que ninguém usava protetor solar. A gente pegava sol, se queimava, ardia, passava pomadinha e no dia seguinte ia à praia de novo com camiseta para proteger as costas. Mas a nossa história acontece numa época em que as meninas já estavam mais crescidas. Adolescentes.
O cenário é o mesmo. A mesma praia em frente ao apartamento velho conhecido. Cheios de amigos que também frequentavam o local nos períodos de férias. Cada um vindo de uma cidade diferente, mas com o endereço no litoral em comum. Antes brincavam na areia com seus baldinhos e pás fazendo castelos e túneis. Já crescidos começaram as paqueras e os encantamentos tão naturais da idade. Foi lá que surgiu, de uma delas o primeiro amor. O garoto era um ano mais velho e fez amizade com o primo dela.
Andavam juntos o dia todo. Iam à praia cedo e à tarde ao fliperama. À noite seguiam junto com a família até a pracinha e a sorveteria. Claro que os momentos com o primo eram também oportunidades de ficarem pertinho um do outro trocando olhares e sorrisos. Tomaram juntos vários picolés de côco, que era o favorito naquele ano. O momento mais doce daquele inocente romance aconteceu debaixo das areias da praia. Em uma manhã ensolarada, todos se divertiam revezando entre banhos de mar e construções na areia.
Ela e ele estavam brincando de escavação com as mãos, cavando túneis para depois despejarem água e transformarem em fossos com crocodilos como antigos castelos que só conheciam das histórias infantis. Durante a escavação, ela de um lado e ele do outro, o túnel de um e de outro se tornou um só. Ali embaixo da areia suas mãos se encontraram e ousaram se tocar, sem ninguém ao redor notar. Ela sentiu um calor que subiu pelo corpo e causou um aperto no coração. O instante durou poucos segundos mas a emoção perdurou. Não falaram sobre isso, nunca. Nem nas cartas e cartões que trocaram por alguns anos depois, especialmente nos dias de aniversário e Natal. Na sua memória até os dias de hoje o endereço que escrevia com tanto carinho: Rua Bela, 1.234.
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Emocionante essa história!!
Amei!!! Férias incríveis, simplicidade, muita brincadeira… tudo que toda criança precisa! 😘