Por Adriana Passari - @adrianapassari

 

Furacão Samantha

 

A pobre foi adotada ainda pequena, muito pequena. Tinha sido devolvida por uma família que não conseguiu se adaptar ao seu gênio “difícil”, disseram eles.

Na nova família foi acolhida por um irmão mais velho além do pai e da mãe. Foi recebida com euforia pela mãe, serenidade pelo pai e total desconfiança pelo irmão. Acostumado a ser o centro das atenções, filho único, mimado, viu seu mundo ganhar contornos inesperados e não tinha certeza se gostava disso. Marrenta como ela só, chegou mostrando a que veio. Correspondeu à alegria da mãe, demonstrou carinho cauteloso pelo pai e ao irmão apresentou uma postura firme, com

uma segurança mais aparente do que real. Não teve sorrisos para ele, muito ao contrário, cerrou os dentes e não se permitiu fraquejar. Só de olhar já se via que ambos teriam muito a resolver. E assim começou a jornada dessa pequena em seu novo seio familiar. Aos poucos a família se habituou à nova dinâmica. As encrencas foram constantes. As alegrias também. Um arranca-rabo daqui outro de lá. Uns mais sérios outros nem tanto. Os conflitos já não tão constantes, embora as vezes violentos, rareavam. A pequena ex-órfã dava sinais claros de adaptação. Seria um prenúncio de paz nessa ampliada família? Nos momentos de trégua, o amor era inegável! A pequena já se permitia receber e retribuir gestos de carinho entre todos. Sua pequena e delicada figura despertava instintos de proteção em cada um que a visse. Era motivo de orgulho do pai e da mãe, sem nunca abandonar a personalidade forte e a postura dominadora. Ajudava a cuidar da casa com uma fidelidade e eficiência impar. Certo dia,  um dia nebuloso, um acidente colocou o ponto final desta história. E a família viu com tristeza, seu pequeno furacão partir, deixando para trás um rastro de corações despedaçados. Dizem que até hoje algumas cicatrizes sangram com essas lembranças, mas, como nenhum amor pode ser desperdiçado, outras histórias começam a ser contadas.


@erasmocartunista


Ouça a história na voz de Adriana Passari:

 



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Fabiana - 11/05/2024 20h50
Linda história....emocionante....lembrei da.minha cachorirnha
Adriana galera - 10/05/2024 17h24
Que orgulho de vc minha amiga, domina o dom da escrita e colocando as palavras com o coração … amei Sou sua fã a muito tempo e agora minha amiga escritora … amoooo
Mariana - 10/05/2024 15h41
Linda a história me emocionei
Leticia - 10/05/2024 15h39
A melhor coluna....espero chegar às sextas-feiras para aventurar....
Maria Jose - 10/05/2024 15h37
Lindo texto......adora sua coluna