Por Adriana Passari - @adrianapassari

Antes da internet (num endereço perto de você)

Dona Terezinha saiu na calçada com uma vassoura novinha em folha que comprou ali no Bazar Cinderela que ficava na esquina da rua Manoel Lopes com a Maria Geralda, onde todo o bairro corria quando faltava um punhado de açúcar ou um pacote de farinha porque a que tinha em casa carunchou e a receita do bolo ia desandar se demorasse pra misturar. E não eram só os ingredientes do bolo ou do almoço que tinham lá não.

Afinal o bazar chamava bazar porque tinha uma variedade muito boa de presentinhos, utilidades para a casa, inclusive a vassoura novinha igualzinha da Dona Terezinha.

Com a vassoura nova o serviço até rendia mais porque vassoura nova todo mundo sabe que varre que é uma beleza. Mas Terezinha não tinha pressa. Puxava de lá pra cá sem muita força. Logo foi Dona Nina que apareceu.

Não portava uma vassoura, mas sim uma bolsinha de tecido forrada com pedrinhas pretas brilhantes com um fecho em cima de encaixar, onde ela carregava um bolinho de dinheiro para buscar uma porção de carne moída no açougue do João, que ficava na outra esquina. Ela não saía de casa de qualquer jeito não. Colocava um vestido florido, recatado, recém passado. Escovava os cabelos, prendia com uma presilha de resina marrom em formato de borboleta com bolinhas peroladas nas asas.

Criado por IA

Passava perfume de alfazema e só aí, botava o pé na calçada. Passou na frente da vizinha e foi logo dando bom dia e jogando conversa sobre o tempo. As duas engataram conversa que rendeu pra mais de duas horas. Nem se deram conta do sol ardido que já começava a torrar as cabecinhas. Atualizaram as notícias da vizinhança inteira.

Desde a história da Sônia da esquina de cima, aquela que tinha arrumado barriga depois de ter separado do traste do marido que deixou ela sozinha com dois filhos adolescentes pra criar, até a história da Neusa, da esquina de baixo, que inventou moda de voltar a estudar depois de velha, onde já se viu? Despediram-se.

Terezinha foi porta adentro. Hora de cuidar do almoço. Nina foi calçada afora a caminho do açougue. Não via a hora de encontrar com a Lucy pra comentar que a Márcia, filha da Dona Yara, terminou o namoro de seis anos com o Celso, filho do dono do mercadinho e estava se engraçando com um homem mais velho, divorciado, um absurdo.

Ouça a história na voz de Adriana Passari: