Articulações para a vinda da Hyundai para Piracicaba

Barjas Negri

Em 2007, li uma matéria no jornal A Gazeta Mercantil destacando que as grandes montadoras de automóveis planejavam construir e implantar cinco novas fábricas na América Latina, com prioridade para o Brasil. Tendo estudado a dinâmica locacional da indústria brasileira na minha tese de doutorado em Economia pela UNICAMP, publicada pela Editora da UNICAMP com o título “Concentração e Desconcentração Industrial em São Paulo: 1880 – 1990”, compreendia que, com o devido esforço e articulação por parte do governo estadual, duas ou três dessas fábricas poderiam ser instaladas em São Paulo, especialmente no interior paulista.

Com base nesse entendimento, elaborei um texto técnico analisando o processo de desconcentração da indústria automotiva brasileira, que, embora historicamente concentrada no Estado de São Paulo, vinha se espalhando para outras regiões do país desde a década de 1990. Esse movimento resultou na instalação de novos polos automotivos fora de São Paulo, como a Ford em Camaçari, na Bahia, a Mercedes-Benz em Juiz de Fora, em Minas Gerais, a Chevrolet em Gravataí, no Rio Grande do Sul, a Volkswagen (ônibus e caminhões) em Resende/Porto Real, no Rio de Janeiro, e a Renault/Nissan em São José dos Pinhais, no Paraná. Essa dispersão industrial significava perda de renda, empregos e arrecadação de impostos para São Paulo.

Apresentei esse estudo ao então governador José Serra (PSDB), que promoveu reuniões com as secretarias estaduais da Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio, com o objetivo de desenvolver políticas para tornar São Paulo mais atrativo para novos investimentos no setor automotivo. Ao longo dos meses seguintes, as equipes técnicas formularam propostas para aumentar a competitividade do estado, incluindo investimentos em infraestrutura, ampliação da oferta de energia elétrica e gás, além de programas de formação técnica para jovens trabalhadores.

Esse esforço resultou em uma mudança significativa: o Estado de São Paulo voltou a ser considerado pelas montadoras em seus estudos de viabilidade para novos investimentos. Como a decisão de instalação de fábricas costuma levar de um a dois anos, a inclusão de São Paulo nesse radar foi um passo essencial para a atração de novos empreendimentos. O resultado não poderia ter sido melhor. Além das cinco montadoras inicialmente interessadas em 2007, outras empresas se mostraram dispostas a investir no estado ao longo dos anos seguintes. Como prevíamos, o interior paulista tornou-se o principal destino desses investimentos, gerando mais empregos, renda e arrecadação para o estado e os municípios. A partir desse movimento, novas fábricas foram inauguradas, como a Hyundai em Piracicaba, em 2012, a Toyota em Sorocaba, também em 2012, a Chery em Jacareí, em 2014, a Honda em Itirapina, em 2015, e a Mercedes-Benz em Iracemápolis, em 2016. Esse processo demonstrou a importância da articulação governamental para a atração de investimentos estratégicos, consolidando o interior paulista como um dos principais polos da indústria automotiva no Brasil.

Barjas Negri foi ministro da Saúde e prefeito de Piracicaba por três gestões