Por Adriana Passari -
@adrianapassari
Gini, a valente
Ela era pequenina, ainda filhote,
quando apareceu de rabinho entre as pernas, com carinha de dar pena, sozinha na
sarjeta em frente à escola das crianças. Neusa olhou para aquela criaturinha
desamparada, ficou com dó e desviou o olhar para as suas meninas. Todas
desembarcando do veículo para iniciarem mais um dia de aula. Sempre tão
apressada, ela não tinha tempo para distrações. Deixava as três maiores na
escola e seguia com a pequena até a casa da vó Lola que ficaria com a número
quatro, pelo período em que ela mesma ia para outra escola onde dava aulas. A
vida era sempre assim em alta rotação, acelerada, para dar conta da rotina.
Acompanhou a entrada das suas filhas, cada uma com sua mochila e lanches, sem
perder a atenção do carro com a mais novinha na cadeirinha. Olhou para o
relógio e estava ligeiramente atrasada. Entrou no automóvel e saiu acelerando,
esquecendo aquela doçura de filhote que vira instantes atrás. Seguiu pela rota
costumeira, entregou a bebê para a vovó cuidar, deu-lhe mais um beijo e seguiu
a caminho do trabalho.
Encerrada a aula, a professora saiu mais uma vez apressada. Seguiu para a escola das meninas, que ficava cerca de 20 minutos de distância nos dias de trânsito bom. As meninas eram bem-comportadas e muito queridas por todos. Estavam esperando do lado de dentro do portão que era vigiado atentamente pelo “Seo Dorva”, como era carinhosamente conhecido pelos alunos. Mas, para a surpresa de Neusa, elas acariciavam com suas pequeninas mãos através das grades, na calçada, a pequena filhote caramelo que havia visto horas antes. E aí veio o dilema. Elas todas encantadas com o animalzinho e a mãe sem saber o que fazer. Não podia abandonar a pobrezinha na rua. Carregaram a filhote para casa. O marido não ficou muito feliz com a novidade, mas logo também caiu de amores pela pequena Gini, como foi batizada pela família. Ela cresceu, mas bem pouquinho. Quase não dava trabalho. Certa vez provou seu valor e lealdade num ato heroico. As crianças já mais crescidas brincavam no quintal com uma lousa que estava recostada no muro e elas sentadas ou ajoelhadas no chão para desenhar.
Tão distraídas na brincadeira que não
perceberam a aproximação de uma pequena cobra rastejando em suas direções. A
pequena Gini foi a primeira a perceber o perigo e partiu para cima do réptil,
abocanhando a criatura e latindo ferozmente. A mãe e o pai alertados pelo
barulho correram para socorrer. Mas, já era tarde demais... Para a cobra, claro
(coitadinha). A Gini, seguiu firme e forte. E viveu muito anos e muitas
histórias mais ao lado da família que a acolheu e que lhe devia tanto!
Ouça a história na voz de Adriana Passari: