Por Adriana Passar -
@adrianapassari
O milho e a pomba
Era um dia de alegria. A
família estava visitando os parentes que moravam no interior. Uma vez ao ano
era sagrado juntar todos a caminho da casa da tia, do tio e das primas. Eram
sempre momentos de muito amor, calor humano, abraços, alegria e uma falação que
não acabava nunca. E como falavam alto. O apartamento de dois quartos virava um
verdadeiro albergue, acolhia a todos espalhados em colchonetes pelo chão da
sala e dos quartos. Os anfitriões se esmeravam em tornar a estadia o mais
agradável possível. Abriam mão do seu conforto e tranquilidade por alguns dias
para acolher carinhosamente sobrinhos, irmãos e cunhados.
A hora da refeição parecia uma
feira, passa travessa pra cá e pra lá, panela de um lado e de outro. Cada um
com seu prato em mãos, se servia como podia e se ajeitava à mesa da cozinha ou
sentado no sofá assistindo televisão. O resultado final era todo mundo
satisfeito e uma força tarefa para a arrumação. Entre as crianças, os mais
malandrinhos davam aquela fugida nessa hora, escapavam da tarefa e sobrava
bronca pra todo lado. Mas no final o clima era de total confraternização.
A família resolveu sair para o passeio da tarde, visitar um dos pontos turísticos mais tradicionais da cidade. Tinha uma bela fonte e um parque cheio de pássaros, entre eles, muitas pombas esvoaçando ao redor do pipoqueiro e do carrinho de milho verde. Todo mundo quis saborear as gostosuras. Porém, um deles foi o premiado do dia. Escolheu uma espiga bem amarela, saborosa, cobriu com muito sal e começou a devorar.
@edugrosso59
O que não teve como evitar, o coitado, foi o presente que uma pombinha desatenta ou maldosa, não se sabe, deixou cair bem no meio da deliciosa espiga. Quase chorou de raiva e de tristeza porque não queria abrir mão do quitute. Olhou para os lados e ninguém da sua família ou próximo estava atento ao seu drama pessoal. Tomou a decisão rapidamente antes que alguém pudesse ver ou tirar sarro da situação. Correu até a bica d’água, lavou a espiga carimbada pela pomba, voltou até o carrinho de milho, temperou novamente a espiga com sal e comeu ela quase toda, sem qualquer sombra de nojo. Evitou, claro, o pedacinho atingido pela bomba da pomba e seguiu a vida feliz e saudável.
Ouça a história na voz de Adriana Passari: