Por Adriana Passari - @adrianapassari

 

A espera de Isaura

 

Dona Isaura vivia só, mas não solitária. Tinha vencido longos anos de vida plena, dedicada à família, aos filhos, netos, ao trabalho que tanto amava, como secretária do Doutor Raimundo. Foi lá mesmo que se aposentou. Foi funcionária exemplar, sempre chegando no horário e saindo mais tarde quando necessário. Foi recompensada por sua fidelidade quando mais precisou. Doutor Raimundo lhe prestou total assistência quando enfrentou “aquela doença” e venceu a batalha. O generoso patrão não lhe deixou faltar nada, nem remédios, nem consultas médicas, nem esperança. E assim que se viu recuperada, o trabalho estava esperando sua importante colaboração. Essa motivação, além do apoio de toda família, foi um enorme diferencial na sua luta. Depois de 30 anos de vida útil, trabalhada com honestidade, chegou a aposentadoria. Não trabalhou um só dia sequer a mais. Entregou-se, confiante ao seu novo projeto de vida. O resto dos seus dias seriam “inúteis”, como ela gostava de brincar. Ela amava aqueles dias inúteis que podia dedicar a cuidar de suas plantinhas sem pressa, arriscar receitas novas no seu velho fogão, ler todos os livros que queria, dormir até acordar sem o despertador a perturbar. Era uma senhorinha muito serelepe a nossa Isaura. Viúva. Tinha total autonomia para cuidar da própria vida, o que fazia sempre com alegria.

A família até tentou tirá-la de sua casinha para morar com eles, pra ficarem “de olho” eles diziam, se ela precisasse de alguma coisa. Mas ela nunca aceitou.


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Gostava de recebê-los ali mesmo, no seu cantinho. Cozinhava pra eles, contava histórias, mas depois, era cada um pra sua casa. Assim que ela gostava, de ter a paz do seu lar só pra ela, depois de todos irem embora. Não era falta de amor ou carinho com seus familiares, era só a sua maneira de viver. Sempre que alguém chegava na casa dela, a encontrava arrumada, bem vestida e com a casa em ordem. Certa vez um neto perguntou por que ela estava sempre assim e ela respondeu: é que estou esperando uma visita e quando ela chegar eu estarei pronta. Mas e se ela não vier? Ah, mas ela virá, quando menos eu esperar ela virá, respondeu enigmática. E continuou balançando em sua cadeira de balanço.

 

Ps.: Até o momento em que estou contando esta história, Dona Isaura continua esperando a visita. E eu me lembrei de um versinho que li numa embalagem de doce na minha infância:  “Vovó de leve balança a cadeira em que dormita, e num sono de criança, me parece mais bonita”.

 

Ouça a história na voz de Adriana Passari:

 



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