2.Melodia

Melodia tem por definição, uma sequência de notas, de diferentes sons, organizadas numa dada forma de modo a fazer sentido musical para quem escuta (Bennet, 1986).

No entanto, essa é uma questão bastante pessoal, porque o que pode fazer sentido musical para uns, torna-se totalmente indiferente para outros. Mas o que será que leva a toda essa diferença?

O que ouvimos desde criança tem uma influência direta nisso, por exemplo, eu me lembro de acordar cedinho para ir para a escola e no radinho de pilha da minha mãe, o locutor dizia a hora e tocava música sertaneja. Eu achava lindo um verso de uma canção que dizia:

Meu ipê florido, junto a minha cela,

Hoje tens a altura da minha janela.

Só uma diferença há entre nós agora,

Aqui dentro as noites não têm mais aurora.

Quanta claridade, tem você lá fora. (José Fortuna)

Na verdade, eu não sabia do que estava falando a letra, mas eu achava a rima, a harmonia das vozes da dupla sertaneja Liu e Leo e a melodia muito agradáveis. Eu ouvia o repertório todas as manhãs e fazia parte do meu cotidiano, da minha cultura, da cultura da minha casa e do micro para o macro, da cultura da cidade, do estado.

Já à tarde o repertório da rádio mudava, ouvia então muita mpb (música popular brasileira) quando voltava da escola e era apaixonada pela voz da grande cantora Elis Regina, uma das brincadeiras que mais gostava era a de “show de calouros” onde imitávamos os cantores. Dessa forma então, eu ia conhecendo diferentes vozes, estilos musicais e ritmos e sem nem perceber, minha cultura musical foi se ampliando.

A reflexão que trago hoje é sobre nossa rica cultura musical brasileira, tão vasta quanto nosso território, tão expressiva e diferenciada, mas apesar disso, sentimos que a qualidade das músicas largamente difundidas tem caído e muitas vezes vemos crianças repetindo letras totalmente inadequadas para sua faixa etária.

Então se pensarmos que, a música é um dos elementos que mais refletem a cultura, qual será o valor cultural que estamos atribuindo à música atualmente? Será que o que ouvimos em casa, no carro, no celular e demais dispositivos, irá influenciar o senso estético e o gosto musical das nossas crianças?

De acordo com Gardner (1992) As crianças não crescem em um vácuo acústico. As canções que elas cantam e as palavras que repetem refletem os sons que elas ouvem na sociedade.

 O que estamos oferecendo de exemplos musicais para nossas crianças, independentemente de estilo ou gênero musical, é um eco da nossa sociedade ou estamos fazendo isso conscientemente?


 

Wana Narval

Cantora, pedagoga, licenciada em Música, mestre em Educação e escritora, é uma artista atuante na cidade de Piracicaba, participando de diferentes projetos culturais. Já cantou como back vocal com a dupla Cézar e Paulinho e foi vocalista na banda Opus, Falando da Vida, Revivendo. Intérprete versátil e eclética, domina diversos estilos musicais e canta em variadas línguas, atualmente integra a Banda Claro Cristal, Banda JáQue, Ternamente eclético, Casa de Noel, como a Mamãe Noel e o Duovox.

Instagram @wananarval

Email wanabackvocal@hotmail.com

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Marcos Antônio de morais - 01/09/2024 10h56
Wana sempre com um assunto pertinente e de grande reflexão: A importância da música na infância! Parabéns Wana pelo artigo muito pontual!
Geraldo Cillo - 30/08/2024 12h33
Como é bom ler o que foi escrito por quem sabe muito do que escreveu. Parabéns pelo texto Wana
Walkiria Didone - 29/08/2024 19h25
Acredito sim que o que ouvimos reverbera em nossa alma...e esse também será um legado deixado para nossos filhos, nossos descendentes
Hermes - 29/08/2024 14h33
Maravilha de conteúdo Wana. Parabéns!!
Cláudio Cacau - 29/08/2024 14h07
Bela reflexão, expansível à toda forma de arte, de cultura, de vida.
Henrique - 29/08/2024 07h54
Ótimo texto a sociedade deveria refletir mais sobre esse assunto.