Por Adriana Passari - @adrianapassari

 

A serenata

 

Ele escolheu alguns amigos de confiança e segredou a sua intenção de prestar uma homenagem a uma bela moça de quem estava enamorado. Romântico que era, pensou em surpreender sua pretendente com uma encantadora serenata e quem sabe roubar-lhe um beijo. Depois de cooptados os colaboradores, partiu para a organização do plano. Ensaiaram algumas músicas, ele na voz, seus colegas no violão e no apoio. A moça valia a pena. Pesquisaram o endereço e a janela para acertar no alvo que era o coração da donzela.

Combinaram para o fim de semana, nem muito cedo nem muito tarde. Com o coração palpitando de ansiedade e aflição, quase desistiu. Foi incentivado pelos colegas que já estavam tão ou mais animados que ele para aquela empreitada.

A noite já estava alta, a rua silenciosa e vazia. Dois gatos pretos cruzaram na frente do carro deles que seguia lentamente para não atrapalhar o elemento surpresa. Mau agouro. Será?? Seguiram com o planejado. Estacionaram no meio do quarteirão e seguiram a pé cerca de 100 ou 200 m até a esquina onde ela morava. Todos a postos, era hora do show. Ele respirou fundo, pediu um dó para o violeiro e começou a cantar. Bastante tímido no início, mas foi ganhando confiança e soltou a voz:

- Abre a janela meu bem, a serenata que faço é pra você mais ninguém...

Olharam ao redor e nada de reação. Emendaram a próxima canção, em inglês, pra caprichar:

- You are so beautiful, you are so beatiful to me, can´t you see...

A janela começou a se mover e eis que ela aparece com a cara meio amassada, mas ainda assim linda. Depois do estranhamento, veio a surpresa e o esperado sorriso. Com a ajuda dos amigos, ele subiu pela beirada do muro, segurou no gradil e ganhou o beijo, no rosto! Que alegria! Desceu e seguiu cantando. Quando já iam executando a terceira música o pai dela apareceu, mandou todos embora e fechou a janela. Missão cumprida!


@estelamenegalli

Voltaram para o carro inebriados pelo sucesso da ação. Um pequeno imprevisto, porém, quase tira o brilho da ocasião. O pneu do carro estava furado e tiveram de providenciar a troca àquela hora da madrugada. Estavam felizes demais para reclamar. Executaram a tarefa cantando e demoradamente, já que não tinham experiência. Luzes se acenderam nas janelas da vizinhança, alguns abriram portas e janelas para reclamar. Ao que eles respondiam, boa noite, o pneu furou. Finalizaram e partiram. A moça, coitada, ficou vários meses andando cabisbaixa escondendo-se dos vizinhos que ficaram sabendo que ela era a causa daquela noite tumultuada. Mas o mais difícil era se desculpar, escondendo o sorriso de contentamento.

Ouça a história na voz de Adriana Passari:



Deixe seu Comentário