Por Adriana Passari -
@adrianapassari
O barquinho de papel
Eu começo essa história explicando da minha total e completa incapacidade de fazer um barquinho de papel. Não que eu não os tenha feito um dia. Acho que fiz. Mas sou incapaz de guardar na memória as dobras necessárias para fazer uma embarcação a partir de um recorte de papel. A teoria parece fácil. Assistir em vídeos parece fácil. Acompanho as dobras com o olhar, mas sou incapaz de repetir o gestos e aceito a minha condição. Isso não impede minha memória de resgatar lembranças da infância com barquinho de papel. Nelas eu me vejo com um barquinho em mãos, feito de papel colorido, de sulfite branco ou de jornal. A memória nunca começa na construção do barco, sempre depois, na hora de soltá-lo na correnteza de uma boa enxurrada.
Caiq!
É possível brincar com o
barquinho numa bacia, mas não é mesma coisa, a bacia impõe muitos limites.
Minhas lembranças vem acompanhadas de outros pares de mãos carregando
barquinhos. Às vezes são mãos pequeninas, infantis como as minhas próprias, mas
muitas vezes as memórias trazem mãos grandes, mãos de homem adulto, meu pai. O
grande barato de soltar um barquinho na sarjeta é correr pela calçada vendo-o
vencer os obstáculos ou ser impedido por eles. Com um graveto em mãos,
interferir, abrir caminhos e seguir acompanhando sua trajetória até que ele se
desmanche na água sucumbindo à sua fragilidade. Por vezes, o solitário barco
ganhava a companhia de algum navegante involuntário, que podia ser uma folha
caída ou uma formiga sequestrada de sua rotina e transformada em Comandante
numa viagem inesperada. O final da história era sempre o final da vida do pobre
barco da vez. E assim a gente aprendia, que o mais importante sempre foi a
jornada.
Nota de rodapé importante: nenhuma formiguinha se feriu durante a produção desta história.
Ouça a história na voz de Adriana Passari: