Somos Multidão!

 

     Hoje, 27 de fevereiro, comemora-se o aniversário de um dos meus Mestres em Psicologia: Roberto Assagioli, pai da Psicossíntese.

     Entre muitas ideias inovadoras e profundas que ele nos deixou, considero superimportante e interessante a ideia de que cada um de nós abriga em si muitas partes, ou subpersonalidades. Vamos entender isso!

     Todo ser humano tem a ilusão de ser coeso, absolutamente homogêneo, com uma personalidade bem definida. No entanto, para cada situação que vivemos não é incomum agirmos ou reagirmos de diferentes formas, às vezes até contraditórias.

    A importância de nos darmos conta dessas diferentes formas de agirmos ou reagirmos deve-se ao fato de que quanto mais aspectos internos eu percebo, reconheço de mim mesmo, maior a consciência de quem sou eu! Somos seres mutáveis, com múltiplas visões a respeito do mundo, com variáveis modelos internos de universo que interferem em nossa percepção a respeito de tudo, influenciam nosso jeito de ser, determinam nossa autoimagem e toda nossa maneira de pensar, sentir e agir.

     Em Psicossíntese, essas múltiplas facetas da personalidade, esses vários estilos de sermos nós mesmos recebem o nome de subpersonalidades. Elas são aquelas vozes que muitas vezes nos dizem: “Vá em frente!”, “Cuidado!”, “Você não vai conseguir...”.

     As subpersonalidades (sub no sentido de parte de um todo e não de inferior) se organizam a partir de alguma necessidade da personalidade como um todo, e no geral, é uma necessidade de nos sentirmos protegidos e/ou seguros. Cada um de nós abriga em si, uma multiplicidade de subpersonalidades. Portanto, somos multidão!

     A importância de conhecermos nossas subpersonalidades é porque somos dominados e controlados por tudo aquilo a que nos apegamos, nos identificamos. E só poderemos dominar e controlar toda e qualquer situação ou emoção quando compreendermos o que está acontecendo conosco naquela situação, porque aquela subpersonalidade apareceu naquele momento.

     A falta de autoconhecimento, a dificuldade de percebermos e aceitarmos nossas diferentes partes, às vezes contrastantes, nos levam a evitar a tarefa de penetrar no nosso mundo interno. A ilusão de que temos que ser “sempre os mesmos”, agir da mesma forma em todas as situações, dificulta dominarmos aquelas nossas partes que nos incomodam. Por exemplo: quando não conseguimos expressar o que sentimos e não entendemos por que agimos assim; quando “explodimos” mesmo querendo manter a calma; quando somos rígidos e intransigentes, mas gostaríamos de ser mais compreensivos e flexíveis, e por aí vai.

     Só determinaremos como agir, coerentes com quem realmente somos, com um jeito que nos faça sentido, se nos propusermos a ser um observador gentil de nós mesmos. O primeiro passo é reconhecermos a existência dessas nossas partes, agradáveis ou não! Para reconhecer algo é necessário focar a atenção, desenvolver a capacidade de olharmos para este nosso padrão de comportamento como se estivéssemos de fora de nós mesmos, e lembrar: as subpersonalidades se formam a partir de uma situação em que sentimos a necessidade de estarmos protegidos. Então, vale se perguntar quando uma subpersonalidade emerge: qual a minha necessidade neste momento? Por que estou tentando me proteger ou defender?

     De modo geral, elas desempenham um papel de armadura, que pode, ao mesmo tempo, ser protetor e limitante.

     Na medida que controlamos tais “vozes internas” ou subpersonalidades, podemos direcionar sua força de forma mais ampla e funcional. Reconhecê-las e nos desidentificarmos, quer dizer, não estarmos “misturados” como se fôssemos realmente alguma delas, nos faz perceber que não somos a subpersonalidade e permite que voltemos ao nosso verdadeiro eu ampliando nossas possibilidades de ESCOLHA!

     As subpersonalidades só são lesivas quando nos controlam, pois passamos a ter uma visão parcial da realidade.

     Estarmos cada vez mais conscientes das nossas partes internas ou subpersonalidades aumenta nosso sentido de identidade profunda. Quanto mais familiaridade temos com nossas partes, mais conseguimos escolher como agir, sermos mais flexíveis e nos sentirmos no comando de nossas emoções, sentimentos, pensamentos e ações. Consequentemente, faremos escolhas cada vez mais coerentes e satisfatórias, sendo cada vez mais quem verdadeiramente somos!

     Que possamos estar cada vez mais em Paz com nossas subpersonalidades! E fazendo escolhas cada vez mais conscientes!

Paz e Bem pra você!

 

 

Bia Mattos

Psicóloga CRP 06/29269


Colunista: Maria Beatriz da Silva Mattos

Psicoterapeuta, Supervisora Clínica, Orientadora Vocacional, Facilitadora nos Cursos de Pós-graduação em Psicologia Transpessoal da Unipaz São Paulo e Paraná. Autora dos livros Espiritualidade em Psicologia: Psicossíntese, uma Psicologia com Alma e Orientação Vocacional - Uma Proposta Transpessoal.


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