O voo de adeus dos quero-queros
Bom dia, pessoal!
Atualmente, moro no litoral. A
pandemia me trouxe isso de bom: decidir com meu esposo estarmos mais próximos
da natureza. Escolhemos o litoral pois amo praia e onde moro passa por expansão,
o que significa que estou literalmente de frente para um empreendimento imobiliário
em construção. Isto me permitiu testemunhar uma das cenas mais bonitas,
provocantes e ao mesmo tempo das mais tristes que já presenciei! Neste local
onde as máquinas trabalham vorazmente, havia uma pequena porção de mata atlântica
e algum mato.
No dia em que foi aberta uma
clareira no meio da mata, saí para olhar o que chamo de “devastação” e comecei
a ouvir o barulho típico de quero-queros se aproximando. Eram em torno de 30 aves voando juntas, em bando. O
que me chamou a atenção foi que voavam em círculos, exatamente sobre a clareira
aberta na mata. Voavam e gritavam seu canto tão característico! Às vezes
dividiam-se em dois grupos que se separavam e retornavam na direção um do outro,
juntando-se e “gritando”. Era como se estivessem a entender o que havia
ocorrido ali! Como se protestassem! Ou talvez, lamentassem...
Quero-queros fazem ninhos no
chão, costumam voltar ao mesmo local do ano anterior para a postura de novos
ovos e defendem ferozmente o ninho...talvez fossem famílias em busca de seus
ninhos ou quem sabe, de seus rebentos. As máquinas não tem olhos, menos ainda
“olhos de ver”, destroem o que está a sua frente... Fiquei ali parada imaginando
todas estas coisas, enquanto a revoada desses seres insistia sobre a clareira
aberta pelo bicho-homem...
Devo confessar que chorei
sentida! É inegável que o local onde estou também era uma mata que deu lugar a
prédios! É óbvio que sei disso! Mas quando presenciamos a destruição
acontecendo na nossa frente, começamos a refletir sobre muitas coisas...
Não sou contra o progresso! Adoro
poder morar na praia, mas será que precisamos de mais construções? Se
observarmos os imóveis destinados a veraneio, veremos que eles passam a maior
parte do ano desocupados! Então me pergunto: precisa mais?!
Preocupa-me o quanto nos
distanciamos da natureza como se não fizéssemos parte dela. Tratamos nosso
planeta como se não fossemos parte integrante dele. E hoje sabemos,
cientificamente inclusive, que o afastamento da natureza só traz destruição,
alienação e auto aniquilamento.
Sim meus queridos, isto é um
assunto de Psicologia. Nossa visão de seres apartados da natureza precisa ser
revista! Basta uma simples observação e veremos que o mar nos traz limpeza
energética natural e consequente sensação de relaxamento e repouso! Banho de
cachoeira nos massageia os músculos relaxando-os e revitaliza nossa corrente
sanguínea, dando-nos maior sensação de bem-estar! O sol traz vitalidade e
auxilia nossos ossos a se manterem fortes! O verde das plantas e flores com seus
aromas e sua beleza nos acalmam a mente, o corpo e o coração! Os pulmões se
revigoram na mata! Nossa acuidade visual e auditiva se ampliam quando
caminhamos em meio ao verde e ao identificarmos os infinitos tons de cores e
sons ali existentes, nossa imaginação é estimulada e se amplia! Caminhar com os
pés na terra magnetiza, descarrega-nos do estresse e nos dá a sensação de
pertencimento e força! O barulho do mar acalma e traz fluidez! Olhar o céu azul
encanta e apazigua! As estrelas nos lembram do infinito cósmico do qual fazemos
parte!
O barulho daqueles quero-queros
me fez pensar nisso tudo, mas especialmente no quanto temos sido negligentes
conosco mesmos ao nos afastarmos da Mãe Natureza e de seus ciclos e ritmos tão fundamentais
para entendermos os nossos próprios ciclos e ritmos, em especial o nascer e o
morrer, o ápice e o apogeu das forças, das conquistas, da vida em si.
Os elementos da natureza têm
papel saneador e curativo, basta ver quantos medicamentos são dela retirados.
Ou pior, quantos danos, inclusive a pandemia atual, tem sido gerados por sua
destruição, a qual nos torna agitados, ego-centrados e egoístas, tensos,
irritadiços, menos criativos, deprimidos, menos sensíveis à destruição em geral.
O convite desta semana a você é
buscar um local na natureza e se propor entrar em comunhão com ela! Você pode
simplesmente fechar os olhos e respirar calmamente sentindo os aromas; pode se
propor a ouvir os diferentes sons dos pássaros, pequenos insetos, do cair das
folhas... Você pode buscar sentir o toque dos raios de sol sobre sua pele ou
então, experimentar a água envolvendo seu corpo delicadamente! Olhe as cores e
formas das flores e descubra quantos detalhes e caprichos elas tem! Ande
descalço na grama ou na terra e perceba o relaxamento que isto traz!
Comungue com a Terra! Volte-se
para nossa casa-mãe, a Natureza, e garanto a você que no mínimo será um reencontro
prazeroso!
Desejo a todos muita paz e todo
bem!
Bia Mattos
Psicóloga CRP 06/29269
Colunista: Maria Beatriz da Silva Mattos
Psicoterapeuta, Supervisora Clínica, Orientadora Vocacional, Facilitadora nos Cursos de Pós-graduação em Psicologia Transpessoal da Unipaz São Paulo e Paraná. Autora dos livros Espiritualidade em Psicologia: Psicossíntese, uma Psicologia com Alma e Orientação Vocacional - Uma Proposta Transpessoal.