“Somos multidão”
Olá! A partir de hoje começamos uma troca – você, leitor e eu – aqui na
RÁDIO PIRACICABA, quinzenalmente. Minha ideia é refletirmos sobre variados
assuntos, sempre sob a ótica da Psicologia.
E para começar, gostaria de convida-lo a pensar sobre como nos
percebemos. É comum nos imaginarmos como seres coerentes, coesos, com uma
personalidade bem definida e acreditamos agir sempre de um mesmo “jeitão”,
sem muita variação, independente do que nos aconteça. É comum ouvirmos as
pessoas dizendo: “esse é o meu jeito!” Mas será que reagimos sempre igual às
mais diversas situações da vida?!
Preocupados com o que queremos conquistar externamente, nem sempre nos
damos conta de que sabemos muito pouco sobre nós mesmos ou como mudar certos
aspectos que nos incomodam.
Roberto Assagioli, psiquiatra italiano que propôs uma abordagem
psicológica chamada Psicossíntese, entendia que temos uma multiplicidade de
aspectos que tendem a se associar e a se organizar formando o que ele chamou de
subpersonalidades (partes do todo da nossa personalidade). Esses diversos “eus”
que coexistem dentro de cada um de nós caminham por conta própria e, muitas
vezes, em contraste uns com os outros. Nosso desafio é usarmos nossa vontade
para harmonizá-los num todo coerente com o que nos faz sentido.
Cada uma de nossas subpersonalidades tem um jeito próprio de se
relacionar e se expressar e, no geral, reagem aos ambientes e surgem motivadas
por certas situações.
Assagioli dizia que temos a ilusão de sermos um todo unificado, mas o
que realmente acontece dentro de nós é que somos uma multidão que luta
continuamente: nossos impulsos, desejos, ideias, medos, crenças, ambições,
ideais...
Um jeito de entender é imaginarmos que nossas subpersonalidades são
músicos de uma orquestra, cada um com seu instrumento e tocando a música que
bem quiser! Podemos imaginar a desarmonia que isto seria! Toda orquestra
precisa de um maestro para que a música seja executada harmoniosa e
agradavelmente. E todos os músicos são necessários para isso, mesmo quando há
um solista que irá apresentar sua parte e depois retirar-se.
Assim, convido você a se observar e perceber se seu comportamento está
mais para uma orquestra em desarmonia, com cada parte querendo se expressar sem
controle, ou se como numa deliciosa sinfonia, dirigida por um experiente e
talentoso maestro determinando quando cada músico entra e toca sua parte da
maneira mais virtuosa possível!
É absolutamente natural termos forças internas que nos parecem
desconhecidas muitas vezes, como quando nos magoamos com alguém inesperadamente
ou quando nos irritamos de forma exagerada e depois nos arrependemos.
O autoconhecimento permite perceber quais motivações estão por trás de
nossos sentimentos, comportamentos e reações. Auxilia percebermos que aquela
situação talvez nos tenha feito sentir confrontados ou desafiados ou que
determinada pessoa nos faz sentir ameaçados ou representa algo de que temos
medo de nos confrontar.
Olhar para nós mesmos e reconhecer o que nos leva a agir desta ou daquela
maneira, permite escolhermos como lidar com as situações. Permita-se dar um
tempo para olhar, compreender e decidir o que e como quer agir nas mais
diferentes situações.
Se você me permite, gostaria de fazer-lhe uma sugestão: ao perceber uma
subpersonalidade, refira-se ela a algum medo, intolerância, rigidez ou o que
for que a motivou surgir, acolha-a com muita gentileza, sem críticas nem
julgamentos! Ela se estruturou aí dentro de você como uma forma de protegê-lo.
Nosso inconsciente tem sua sabedoria própria, mas podemos ser os maestros de
nós mesmos e decidir como queremos reger a sinfonia da nossa própria existência
dentro da harmonia que nos soe o mais agradável possível!
Bia Mattos
Psicóloga-CRP 06/29269
13/07/2021
Colunista: Maria Beatriz da Silva Mattos
Psicoterapeuta,
Supervisora Clínica, Orientadora Vocacional, Facilitadora nos Cursos de
Pós-graduação em Psicologia Transpessoal da Unipaz São Paulo e Paraná. Autora
dos livros Espiritualidade em Psicologia: Psicossíntese, uma Psicologia com Alma
e Orientação Vocacional - Uma Proposta Transpessoal.
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Excelente artigo! Já esperando o próximo.