Para Olavo
Bilac “a saudade é a presença dos ausentes”.
“Ter
saudades é viver”, escreveu Fernando
Pessoa.
Eu diria que ter saudades é ter
vivido, e também é sentir as ausências presentes. É sentir lembrança nostálgica
de tudo aquilo de que gostamos, que nos fez bem ou nos deu prazer. Para mim
SAUDADES SÃO AS CORES PREFERIDAS DO
NOSSO PASSADO!
Minhas saudades têm cores, e os tons
variam de acordo com a emoção que senti no momento. Tem saudade que é gostosa e
cor-de-rosa! Tem saudade tão linda e doída ao mesmo tempo, que os tons todos se
misturam e formam uma cor indefinida, quase uma ferida, indicando a presença da
ausência. Mas ainda sim, saudades!
E fiquei pensando ... a saudade se resolve ? Como ?
Eu penso
que não haja ‘solução’ pra saudade em si!
Aquele sentimento de lembrança e o desejo de tornar a ver ou ter alguém por perto,
uma situação ou um momento, não deixam de existir em nós. Aquilo que foi muito bom
ou maravilhoso tende a se manter num lugar especial de nossas memórias e
corações. E vai dar saudade vez ou outra.
Mas a
maneira como processamos essas recordações pode ser diferente. As cores que
usamos para cada lembrança podem mudar. E o tempo que nos dedicamos a ficar
sentindo essa saudade também.
Acredito
que possamos ‘resolver’ - de alguma
forma -
as sensações que a saudade causa: de distância, perda, falta e amor
que acabam se misturando e ocasionando sofrimento. É libertador ponderarmos sobre isso! Sabermos que podemos trabalhar
o cérebro e o corpo para reconhecerem e aceitarem o que não nos faz bem dentro
da saudade. Propormo-nos a identificar se é
possível REAVER o que foi perdido ... e se não for, permitirmos que o
sentimento vá desvanecendo ... NÃO NOS APEGARMOS A SAUDADE! Assim vamos colocar
nossa atenção em ‘deixar fluir’, e vamos começar a treinar os pensamentos para que,
pouco a pouco, a saudade possa se tornar
uma lembrança suave, sem tanto sofrimento.
Fácil? Dependendo da saudade, de jeito
nenhum! Mas é super possível e necessário
conseguirmos colocar em ação. Pelo bem da nossa saúde. Em prol das CORES que desejamos para a cartela das nossas vidas no
presente e no futuro.
Procurando entender melhor a
saudade, busquei leitura psicanalítica sobre ela. E encontrei alguns pontos
interessantes para lidarmos com a saudade que faz mal, e que resulta na “somatização do
sofrimento psicológico. Ansiedade, angústia, tristeza, sensação
de frustração, desamparo, insegurança, solidão, e depressão podem fazer o corpo adoecer. Entre as estratégias para evitar o pior, foram citados desde apoio social, religioso, atividade física, diversas
formas de terapia, comunicação (mesmo a distância em tempos de pandemia), até o convívio com amimais de estimação”
(Autor: Viriato Manuel de Oliveira Horta, Médico
e Especialista de Medicina Geral e Familiar na Clinica Europa).
Mas quando
estas estratégias falham ou não são suficientes, pode ser necessário procurarmos
tratamento psicoterapêutico e também farmacológico, até que consigamos desapegar, até
que consigamos organizar as coisas e as cores dentro de nós. Até que ajustemos
a nossa visão, colocando mais gratidão em nossas observações, nossas sensações, e menos ilusão de controle. A ponto de enxergamos com mais leveza o que se passou
de MELHOR em nossas vidas, e que não faz mais parte daquela maneira.
Pessoas e momentos preferidos não merecem o peso do sofrimento atrelado a elas ... são dignos das cores e dos sentimentos mais leves e lindos que pudermos escolher!
Colunista da Rádio Piracicaba:
Gabriela Bertoli/Jornalista