Por Adriana Passari - @adrianapassari

A mulher da sanfona e o velho da tuba

Ela era a primeira de quatro filhos de uma espanhola brava, trabalhadora, guerreira e de um italiano galã, de olhos azuis, boa vida, que ganhava as oportunidades da vida no carisma. Teve uma educação primorosa, acompanhada com rigor pela mãe que assumia firmemente as rédeas da casa nas poucas horas disponíveis que tinha depois do expediente na fábrica onde trabalhava.

Do pai vinha também as exigências pelo recato que toda boa moça deveria ter. Na escola frequentava as aulas regulares e depois seguia para o conservatório onde aplicava todo seu talento musical na lida com os instrumentos que tanto amava.

Começou ao piano, aprendeu a ler as partituras, passou a tocar violão e castanholas, mas era junto à sanfona que se encontrava completa. No vaivém do fole ela tirava as canções que mais amava e passou a animar as festas familiares e os bailes do bairro. Como não só de boa vida é que se vive, também ela foi parar no chão da fábrica assim que terminou os estudos básicos. Inteligente como ela só, procurou estudar e aprender mais sobre o ofício e logo foi promovida a outros setores que mais exigem intelecto do que força.

Conquistou sua vida e sua independência. No amor encontrou barreiras, um relacionamento complicado e um filho.

Por IA

A sanfona que nunca foi esquecida ficou só de olho esperando a chance de brilhar. E ela veio. Na maturidade abraçou a velha companheira para não largar mais. Voltou a “sanfonear” aos poucos e logo já estava aos muitos. Tocava aqui e ali onde houvesse convite. E os convites vieram de todos os lados. Ali mesmo no bairro acabaram formando uma banda extraordinária.  Juntaram o violão de um, teclado de outro, a tuba do velho e a sanfona dela.

Vez ou outra tinha mais gente e mais instrumentos. O ensaio de toda semana era uma alegria só. O velho da tuba andou dando uns acordes interessados na dona da sanfona. E olha que ele era bem afinadinho, não errava uma nota. Ela dizia que não, mas ficava bem animada quando a tuba tocava alto. Ele se esforçou bastante e o resultado foi que deram belos shows nos bailes da região e só. A dona da sanfona já tinha parceira pro resto da vida. Era nos braços dela que gostava de estar, pra lá e pra cá.

Ouça a história na voz de Adriana Passari: