Por Adriana Passari - @adrianapassari

Descanse em paz

Pela terceira vez naquela semana a família foi chamada para as despedidas finais. Seu Aragão era duro na queda, mas desta vez não tinha escapatória. Era chegado o fim da sua jornada. Pelo menos era o que a equipe médica pensava mais uma vez. A família que estava de prontidão respondeu ao chamado e compareceu novamente. Com lenços e muitas lágrimas prantearam o amado membro que tão lindas histórias vivenciou com cada um deles.

Com a nora, com os filhos, com a esposa adorada, os netos. Cada um deles tinha muitos capítulos de sua história para contar, sempre reforçando o otimismo e entusiasmo do agora moribundo, quase falecido.

Prontos para entregar o parente amado aos braços do Pai, foram surpreendidos por mais um alarme falso. Sinais vitais restabelecidos, voltaram todos para casa dar sequência na vida. Não foi desta vez. Um cunhado que morava longe e veio certa vez em visita quase bateu as botas antes do dito cujo. É que ele teve um piripaque daqueles no meio de um tratamento de gripe que foi alongada e virou pneumonia.

Por IA

Teve uma arritmia, foi levado às pressas para o hospital onde passou três dias hospedado deixando a família de cabelo em pé. Saiu de lá recuperado e pronto pra outra. Na próxima visita ao Aragão encontraram o velho até mais corado, com uma certa lucidez, tomando suco de laranja que pediu para a equipe porque estava com sede.

Foi um bálsamo de alegria para aquela família que estava vivenciando o luto em prestações. Passaram uma tarde agradável, parecia almoço de domingo, daqueles que reúnem a parentada e não tem nem espaço na mesa pra todos ao mesmo tempo. É um tal de gente com prato no colo espalhado pela casa ou sentado no sofá assistindo programa de auditório na televisão. Cada um falando mais alto que o outro para conseguir ser ouvido ao contar sua história enquanto a tia mais velha sobe o volume da TV porque não consegue ouvir o apresentador. Uma confusão danada de boa. No dia seguinte a equipe médica faz mais um chamado.

Desta vez definitivo. Até porque eles mesmos já estavam envergonhados por tantos alarmes falsos e esperaram um pouco mais antes de acionar a família. Agora foi. Aragão partiu. Descanse em paz pai, marido, avô, sogro, tio, cunhado, irmão amado.

Ouça a história na voz de Adriana Passari: