Por Adriana Passari - @adrianapassari
Marquiiiiiiiiiinhoooooooo
Era uma rua movimentada, num bairro popularmente conhecido por “cebolândia”, devido elevado número de moradores descendentes de espanhóis. Nem todos os filhos ou netos de espanhóis gostam de comer cebola, mas o apelido pegou e ninguém reclamava. Faziam parte da cebolândia ainda: a rua Catalunha, rua Barcelona, rua Madri e outras com outros nomes, que não faziam referência ao país europeu, mas que ficavam dentro do perímetro que era dominado pela feira livre aos domingos. Era a maior feira livre de rua ainda ativa na cidade e vinha gente de todos os lugares para aproveitar. Eram os cinco quarteirões mais percorridos pelas donas e donos de casa da área.
Os feirantes começavam cedinho, lá pelas 3h da madrugada já se ouviam os sons dos caixotes sendo empilhados, as marteladas para encaixar as estruturas para acomodar frutas, verduras, legumes e muita variedade como roupas, calçados, doces. Não podia faltar, claro, a tradicional barraca do pastel, que delícia! Quando amanhecia já se ouviam os gritos dos feirantes mais extrovertidos e brincalhões com a famosa frase: Moça bonita não paga!! Mas também não leva!!!
Essa e muitas outras que fazem parte do folclore dessa modalidade de varejo tradicional. Era um dia diferenciado para todos, tinha aqueles que achavam tudo divertido e aqueles que detestavam aquela bagunça toda na porta de casa. Isso sem contar a sujeira que ficava depois.
Claro que ao final da feira, havia o trabalho dos varredores e até o caminhão da água que passava lavando as calçadas. Essa parte era especialmente divertida para as crianças que tiravam os sapatos e corriam atrás do caminhão para brincar nos jatos de água e voltavam pra casa encharcadas. Teve um domingo que um dos moleques da rua andava meio adoentado, gripadinho a semana toda. Ele morava na casa 5 da vilinha que ficava de frente com a rua principal da feira. A mãe dele era conhecida pelo forte timbre de voz, já que ela vivia chamando o garoto aos berros. Quando era hora de se recolher, todo mundo já sabia, porque ela gritava da janela da casa mesmo: Marquiiiiiiiinhoooooooo!!!! A vizinhança toda ouvia. O moleque virava um cisco e corria pra casa.
Os amiguinhos, meio assim, sem graça, acabavam encerrando as brincadeiras também. Mas naquele domingo ele não poderia sair de casa e muito menos brincar com o caminhão pipa. Só que o danado, esperou a saidinha da mãe para comprar verduras e saiu escondido logo atrás.
A mãe só ficou sabendo porque a vizinha fofoqueira da rua foi dando com a língua nos dentes e caguetou o menino que nessa altura já estava molhado até o último fio de cabelo. Ela bateu perna pra lá e pra cá atrás do Marquinho sem encontrar. Ele foi avisado pelos colegas que a mãe estava furiosa e foi logo se escondendo. Conseguiu escapar da fera até quase no final da tarde. Como castigo pegou mais três domingos de gancho sem poder brincar na rua. E a vizinhança até estranhou tanto tempo daquele silêncio, sem o famoso chamado: Marquiiiinhooooo!!!!
Ouça a história na voz de Adriana Passari: