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Coluna: Pirarazzi com Elson de Belém

Publicada em: 16/11/2025 08:45 -

Legado da COP30: Reflexões sobre um evento global e suas marcas locais

 

A COP30, realizada em Belém, está sendo mais do que uma conferência internacional sobre mudanças climáticas; é um espelho das contradições e esperanças do nosso tempo. Em meio às discussões, negociações e promessas, fica a questão: qual será, de fato, o legado que essa conferência deixará para seus habitantes? Para os povos originários, ribeirinhos, quilombolas e demais moradores das áreas urbanas da região?

 

Ao pensar nesse legado, é preciso refletir sobre os impactos que as grandes obras de infraestrutura e os desafios de receber um evento global impõem às comunidades locais. Belém, com sua riqueza cultural e natural, se viu diante de um esforço gigantesco para acomodar o fluxo de visitantes, jornalistas, diplomatas e ativistas de todo o mundo. Novas estradas, melhorias no aeroporto, instalações de infraestrutura temporária — tudo isso buscava mostrar uma cidade moderna e preparada. Mas a que custo?

 

Para os povos originários e ribeirinhos, essa transformação muitas vezes traz à tona uma sensação ambígua. Por um lado, a visibilidade dada às suas terras e modos de vida pode abrir portas para reconhecimento e diálogo. Por outro, a ameaça de perda de territórios, de desrespeito às suas culturas e de impactos ambientais irreversíveis permanecem como sombras no horizonte. As mudanças na infraestrutura urbana podem facilitar a entrada de investimentos, mas também podem acelerar processos de deslocamento e expropriação, muitas vezes sem o devido protagonismo dessas comunidades.

 

Já os quilombolas e moradores tradicionais enfrentaram os desafios de uma cidade que se ampliou e se modificou para receber o mundo, muitas vezes sem diálogo ou compensação adequada. As melhorias na infraestrutura urbana, embora necessárias, podem se transformar em obstáculos quando o objetivo principal é a preservação de suas identidades e territórios.

 

E o que dizer dos moradores da cidade de Belém, que viram suas ruas se adaptarem às exigências de um evento internacional? A sensação de que a cidade foi “transformada para o evento” pode gerar uma reflexão sobre o verdadeiro significado de legado: será que as melhorias permanecem após o encerramento da conferência? Ou elas se tornam marcos efêmeros de um esforço que, na prática, não atende às necessidades de suas populações mais vulneráveis?

 

Essa é a provocação que fica: a COP30 poderia ser uma oportunidade de consolidar políticas de preservação ambiental, inclusão social e reconhecimento cultural. Mas, na prática, seu legado pode ser marcado por projetos de infraestrutura que beneficiam poucos e deixam para trás aqueles que mais precisam de proteção e atenção.

Portanto, a reflexão que fica é: o verdadeiro legado da COP30 será uma cidade mais sustentável e justa para todos? Ou será mais um capítulo na história de um evento que, apesar de suas boas intenções, deixou marcas superficiais em territórios que carregam séculos de resistência e identidade?

A resposta cabe a todos, habitantes de Belém e do mundo, que podemos exigir que o legado seja uma verdadeira transformação social, ambiental e cultural — uma mudança que respeite e valorize aqueles que sempre estiveram na linha de frente da preservação do nosso planeta.

 

Elson de Belém é Artista e Comunicador Cultural

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