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Coluna: Pirarazzi com Elson de Belém

Publicada em: 09/11/2025 08:29 -

Desabafo de um paraense: Belém aos olhos do mundo na Cop 30, mesmo sob as sombras do preconceito

 

Há um cheiro de tucupi no ar do planeta.

Belém, a cidade que nasceu entre rios e encantos, está prestes a ser o coração pulsante das discussões sobre o futuro da Terra. E há uma beleza poética nisso — ver o mundo inteiro voltar seus olhos para onde a vida sempre começou: a Amazônia.

 

Durante tanto tempo, fomos vistos como o “fim do mapa”. Agora, somos o começo de um novo tempo. A COP 30 em Belém é mais do que um evento; é um chamado ancestral, um reencontro da humanidade com sua origem verde. É o planeta inteiro atravessando o Guamá e o Pará para entender o que os nossos povos ribeirinhos e originários sempre souberam: a floresta não é um recurso, é uma mãe.

 

E agora, finalmente, todos sabem que Norte não é Nordeste —

e que lá não é só mata.

Por trás dos estereótipos que durante décadas tentaram nos reduzir, existe um povo que pulsa cultura, arte, fé e sabedoria.

A discriminação e o preconceito sempre existiram, silenciosos e cruéis.

Mas chegou a nossa hora, a nossa vez de mostrarmos quem somos —

de afirmarmos nossa identidade através da linguagem, da gastronomia, da música, das expressões e das belezas naturais que fazem do Pará e da Amazônia um tesouro vivo do planeta.

 

E neste momento em que o mundo inteiro fala de Amazônia,

agora todos se acham proprietários da floresta,

sem conhecer suas águas, seus cheiros, suas dores.

Enchem discursos de palavras bonitas e vazias, de promessas que não germinam.

Mas antes de falarem por nós, ouçam quem mora aqui,

ouçam quem sente o calor da terra e o peso das enchentes,

quem vê o desmatamento avançar e chora pelas perdas ao longo dos anos.

Nós, paraenses e amazônidas, sentimos na pele — e na alma —

a dor e o orgulho de pertencer às nossas raízes.

Belém mostra-se em sua essência — colorida, plural, contraditória.

Mostra seu povo, que acorda cedo com cheiro de café e chuva, que atravessa rios como quem atravessa destinos, que canta o carimbó como quem reza. Mostra sua resistência, essa herança de séculos, que agora floresce sob os olhos do mundo.

 

E ainda assim, há quem critique.

Há quem prefira o silêncio da ignorância ao som do tambor amazônico.

Mas, convenhamos, é fácil criticar da sombra do ar-condicionado; difícil é viver sob o sol que queima a pele e renova a vida, sob o som da mata que nunca dorme. Difícil é entender que o que se discute aqui não é apenas política ambiental — é a sobrevivência de todos nós.

 

A COP 30 deixará muito mais que discursos:

deixará legados, investimentos, consciência, e sobretudo respeito.

Respeito ao povo que aprendeu a ler os sinais da natureza antes dos livros existirem. Respeito aos que entendem que desenvolvimento não é devastar, é coexistir.

Belém, com sua alma molhada de chuva e fé, será o espelho onde o mundo se verá refletido — com suas contradições, suas esperanças, e sua urgente necessidade de mudar.

 

Por isso, a quem ainda duvida, um recado simples:

Sejam mais brasileiros.

Olhem para Belém com o mesmo orgulho com que olhariam para qualquer grande capital do mundo.

Porque quando o Norte brilha, é o Brasil que se ilumina.

E quando a Amazônia fala, é o planeta que precisa escutar.

 

Elson de Belém é Artista e Comunicador Cultural

Imagens reprodução internet

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