Desabafo de um paraense: Belém aos olhos do mundo na Cop 30, mesmo sob as sombras do preconceito
Há um cheiro de tucupi no ar do planeta.
Belém, a cidade que nasceu entre rios e encantos, está prestes a ser o coração pulsante das discussões sobre o futuro da Terra. E há uma beleza poética nisso — ver o mundo inteiro voltar seus olhos para onde a vida sempre começou: a Amazônia.
Durante tanto tempo, fomos vistos como o “fim do mapa”. Agora, somos o começo de um novo tempo. A COP 30 em Belém é mais do que um evento; é um chamado ancestral, um reencontro da humanidade com sua origem verde. É o planeta inteiro atravessando o Guamá e o Pará para entender o que os nossos povos ribeirinhos e originários sempre souberam: a floresta não é um recurso, é uma mãe.
E agora, finalmente, todos sabem que Norte não é Nordeste —
e que lá não é só mata.
Por trás dos estereótipos que durante décadas tentaram nos reduzir, existe um povo que pulsa cultura, arte, fé e sabedoria.
A discriminação e o preconceito sempre existiram, silenciosos e cruéis.
Mas chegou a nossa hora, a nossa vez de mostrarmos quem somos —
de afirmarmos nossa identidade através da linguagem, da gastronomia, da música, das expressões e das belezas naturais que fazem do Pará e da Amazônia um tesouro vivo do planeta.
E neste momento em que o mundo inteiro fala de Amazônia,
agora todos se acham proprietários da floresta,
sem conhecer suas águas, seus cheiros, suas dores.
Enchem discursos de palavras bonitas e vazias, de promessas que não germinam.
Mas antes de falarem por nós, ouçam quem mora aqui,
ouçam quem sente o calor da terra e o peso das enchentes,
quem vê o desmatamento avançar e chora pelas perdas ao longo dos anos.
Nós, paraenses e amazônidas, sentimos na pele — e na alma —
a dor e o orgulho de pertencer às nossas raízes.

Belém mostra-se em sua essência — colorida, plural, contraditória.
Mostra seu povo, que acorda cedo com cheiro de café e chuva, que atravessa rios como quem atravessa destinos, que canta o carimbó como quem reza. Mostra sua resistência, essa herança de séculos, que agora floresce sob os olhos do mundo.
E ainda assim, há quem critique.
Há quem prefira o silêncio da ignorância ao som do tambor amazônico.
Mas, convenhamos, é fácil criticar da sombra do ar-condicionado; difícil é viver sob o sol que queima a pele e renova a vida, sob o som da mata que nunca dorme. Difícil é entender que o que se discute aqui não é apenas política ambiental — é a sobrevivência de todos nós.
A COP 30 deixará muito mais que discursos:
deixará legados, investimentos, consciência, e sobretudo respeito.
Respeito ao povo que aprendeu a ler os sinais da natureza antes dos livros existirem. Respeito aos que entendem que desenvolvimento não é devastar, é coexistir.

Belém, com sua alma molhada de chuva e fé, será o espelho onde o mundo se verá refletido — com suas contradições, suas esperanças, e sua urgente necessidade de mudar.
Por isso, a quem ainda duvida, um recado simples:
Sejam mais brasileiros.
Olhem para Belém com o mesmo orgulho com que olhariam para qualquer grande capital do mundo.
Porque quando o Norte brilha, é o Brasil que se ilumina.
E quando a Amazônia fala, é o planeta que precisa escutar.
Elson de Belém é Artista e Comunicador Cultural
Imagens reprodução internet