Por Licia Mangiavacchi
A insônia é um dos distúrbios mais comuns entre os brasileiros. Segundo dados da Associação Brasileira do Sono (ABS), cerca de 73 milhões de pessoas no país sofrem com dificuldades para dormir, seja pela dificuldade em iniciar o sono, mantê-lo ou pela sensação de não ter descansado ao despertar. Diante desse cenário, medicamentos como o zolpidem e outros ansiolíticos de tarja preta se tornaram amplamente prescritos. Mas a dependência e os efeitos colaterais desses remédios têm aberto espaço para alternativas, entre elas, o uso da cannabis medicinal.
A estudiosa de cannabis Beatriz Jacob destaca que os canabinoides presentes na planta, como o CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol), têm mostrado resultados promissores em pesquisas relacionadas à melhora do sono. “A cannabis pode ajudar alguns pacientes a regular o ciclo circadiano, reduzir a ansiedade e promover um sono mais profundo e reparador. Mas é essencial entender que cada organismo responde de uma forma diferente”, explica.
Cada paciente, um protocolo
Um ponto central defendido por Beatriz é a individualização do tratamento. “Não existe receita pronta quando falamos de cannabis medicinal. A dosagem, a proporção entre os compostos da planta e até a forma de consumo precisam ser ajustadas para cada paciente, respeitando suas necessidades e seu histórico de saúde”, reforça.
Diferença em relação às tarjas pretas
Enquanto medicamentos convencionais para insônia podem causar tolerância, dependência e efeitos colaterais importantes, como sonambulismo e prejuízo da memória, a cannabis medicinal tem perfil diferente. “A proposta não é sedar, mas reequilibrar. Para alguns pacientes, a cannabis representa uma alternativa mais segura no longo prazo, desde que usada com acompanhamento médico pois são medicamentos metabolizados no fígado e, por isso podem trazer alterações no fígado e interações medicamentosas”, ressalta Beatriz.
Segurança e regulamentação
No Brasil, a cannabis medicinal já é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em protocolos específicos. Ainda assim, a especialista alerta que a automedicação é arriscada. “É fundamental que o tratamento seja acompanhado por profissionais capacitados, que saibam orientar quanto ao tipo de extrato, à dosagem adequada e à interação com outros medicamentos.”
Um olhar de esperança
Para pacientes que convivem com noites mal dormidas e os impactos da insônia na saúde mental, no desempenho profissional e na qualidade de vida, a cannabis medicinal pode representar uma alternativa de esperança. “O sono é uma das bases da saúde. Quando conseguimos restabelecê-lo de forma equilibrada, devolvemos ao paciente qualidade de vida, energia e bem-estar”, conclui Beatriz.
O debate sobre a cannabis no tratamento da insônia ainda está em evolução, mas os avanços científicos e a experiência clínica já mostram que, em alguns casos, ela pode ser uma aliada importante contra um problema que afeta milhões de brasileiros.