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Coluna: Entre Linhas com Ivana de Negri

Publicada em: 03/09/2025 07:51 -

Bom dia a todos!

Ivana Maria França de Negri

 

            Essa é a forma gramatical correta de nos referirmos a todas as pessoas presentes num evento. Todos é um pronome indefinido que abrange masculino, feminino e outros gêneros. E se refere a toda gente e todo mundo. É uma redundância usar todos e todas. Assim como a palavra criança, é a forma culta para designar seres humanos na primeira fase da vida. Inclui todos os gêneros, não é necessário usar menines ou outras distorções da língua. São pleonasmos – emprego de palavras desnecessárias ao sentido da expressão, tanto do ponto de vista sintático quanto do significado.

Outra palavra utilizada erroneamente, segundo as regras da língua, é presidenta. A palavra presidente segue a regra de adolescente, gente, atendente, agente, cliente, parente, assistente, descendente, superintendente, gerente e muitas outras com esse sufixo.

            Não estou aqui para falar de inclusão, do politicamente correto, mas sim do respeito às normas do uso correto da nossa “última flor do lácio, inculta e bela”, expressão que Olavo Bilac usou para designar a língua pátria. Sou uma pessoa consciente, que respeita os seres humanos, os animais e a natureza, abraço várias causas, sou vegetariana há mais de quarenta anos em respeito à vida dos animais, e tento trabalhar por um mundo melhor e mais humano. Respeito a diversidade e as ideias e ideais de cada um. Mas como escritora, defendo o uso correto da língua portuguesa.

Se começarem a mexer na língua, terão de mudar tudo! Palavras como indígena, turista, motorista, imigrante, meliante, ciclista, incluem todos os gêneros.

Girafa é o nome de um animal, macho ou fêmea. Não existe girafo.

O prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini, causou enorme polêmica ao interromper a fala da professora Maria Inês, que se dirigiu aos ouvintes nestes termos: “bom dia a todos, todas e todes, companheiros, companheiras e companheires”. Era uma  Conferência Municipal da cidade e ele alegou que na prefeitura não se trabalha com pronomes neutros e nem com doutrinação ideológica, e que havia um padrão da comunicação oficial do município. Essa polêmica viralizou na internet como um rastro de pólvora, prestes a explodir. Uns contra e outros a favor. Disseram que houve desrespeito da parte do prefeito. Mas também pode-se ver por outro ângulo, um desrespeito da parte dela às normas da prefeitura e da língua portuguesa. Questão de ponto de vista.

 Minha opinião: independente de ideologias, de partidos políticos e de querer agradar a  todos os grupos, a norma culta da língua mãe deve ser seguida em discursos formais.

Dentro da modalidade poesia, existe a liberdade poética que consiste em criar palavras não existentes nos dicionários, mas que tenham sonoridade como “escrevivência”, bela expressão criada pela escritora e poetisa Conceição Evaristo. Mulher, negra, ela dá voz às mulheres negras, marginalizadas, combate o racismo, prega a inclusão, mas em nenhum momento utiliza linguagem neutra. Ela segue as normas cultas para levantar suas bandeiras. Por isso, por manejar tão bem a língua, mereceu inúmeros prêmios importantes como o Jabuti, Juca Pato e o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais, entre outros.

Entre amigos (e não amigues), cada um tem a liberdade de usar a gíria que quiser, se isso os faz sentirem-se melhor, mas não num discurso solene, principalmente em eventos literários e discursos formais em sessões magnas. Em espaços institucionais, há que se preservar a norma culta da língua portuguesa e neutralidade ideológica.

 

 

Ivana Maria França de Negri é escritora

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