
Victor
Passava
os dias irritado, sem paciência com os funcionários, ansioso e triste. Não
gostava que lhe falassem e dormia demais, assim que chegava em casa do
trabalho. Acordavam-no para jantar e, logo, voltava à cama. Victor Stinchelli,
37 anos, sofria de abstinência nicotínica. Os sintomas da abstinência do
cigarro variam de pessoa a pessoa, considerando o grau de dependência. Esse
conjunto de reações desconfortáveis que Victor experimentou, que também pode
incluir dor de cabeça, dificuldade de concentração e aumento do apetite, é
denominado síndrome de abstinência da nicotina. Tais reações são passageiras e
tendem a desaparecer em algumas semanas.
Sua
última tentativa para livrar-se do vício nos cigarros iniciou-se no final do
ano de 2024. Poucos meses antes, temeu pela vida enquanto aguardava o resultado
da biópsia de um nódulo na corda vocal, felizmente, benigno. Porém o impacto
mudaria sua vida, pois o revestiu de determinação. Gisele, a esposa companheira
há 10 anos, fez o papel de madrinha, apoiando-o. Converteram-se à Igreja
Quadrangular. Lá, sentiram-se acolhidos, apoiados e amparados. Imbuída de fé, Gisele,
também, fizera a penitência de abster-se de açúcar e de doces para conseguir a
graça ao marido.
Victor
nascera numa família de fumantes. Recorda-se da mãe, das tias, dos tios e dos
primos reunidos na Praia Grande, ao redor de uma mesa, jogando tranca e fumando
cigarros a noite inteira. Despertou-lhe o desejo de fumar na adolescência aos
17 anos. Pegava, escondidos, os cigarros da mãe e levava-os aos amigos, nas
pescarias na Represa Tamanduá, em Santa Maria da Serra — a fumaça ajudava a
espantar os mosquitos. Dos dez jovens que experimentaram, juntos, os cigarros,
três tornaram-se fumantes até os dias atuais. Um estudo surpreendente,
publicado no Nicotine and Tobaco Research, estimou a taxa de conversão em
fumantes, ou seja, o risco da experimentação, como atividade recreacional, se
tornar uma prática diária, uma necessidade compulsiva. O número é de 68% ---
pelo menos três em cada cinco pessoas que experimentam cigarros, pela primeira
vez, se tornam fumantes diários, mesmo que temporariamente. Dar um trago num
cigarro só para experimentar pode ser um caminho sem volta, o que ajuda a confirmar a importância de se
prevenir a primo-experimentação dos cigarros.
Sua
luta contra o cigarro vem de muitos anos. Conseguira permanecer oito meses
longe deles em 2019, após tratamento com a vareniclina, medicamento
indisponível atualmente. Num descuido, durante a festa de Réveillon, pegara, da
prima Débora, um paieiro e, em pouco tempo, voltara a consumir 20 cigarros por
dia. Certa vez, a filha Manuela, aos 7 anos, anunciou que largaria a chupeta e
que ele deveria abandonar os cigarros. Ela cumpriu a promessa, mas o pai a
decepcionara.
Trabalhou,
alguns anos, na Caterpillar depois que finalizou o curso técnico em mecânica de
produção no SENAI. Chegara a cursar um semestre de engenharia mecânica na EEP,
porém resolveu largar a faculdade e empreender. Aos 28 anos de idade, abrira,
com um sócio, a VM Metais, onde produz vergalhões para a construção civil.
Desta vez, exitoso, segue, confiante e orgulhoso, noventa dias sem os cigarros. Gisele conta que Victor se transformou — está sereno, dedica tempo de qualidade à família e passou a preparar, diariamente, o café da manhã em casa. Gostam de frutas, de café e de pão com ovos mexidos. Frequenta a academia de seis a sete vezes por semana e, assim, não ganhou peso. Os vínculos familiares de amor sustentaram-no.
Dra. Juliana Previtalli é cardiologista e atende em seu consultório particular. Agendamentos por mensagem para (19) 997123-1361