
Existencialismo e a responsabilidade individual na
construção do destino
Ronaldo Castilho
O
existencialismo é uma corrente filosófica que coloca o indivíduo no centro de
sua própria existência, atribuindo-lhe total responsabilidade sobre suas escolhas
e sobre o rumo de sua vida. Filósofos como Jean-Paul Sartre e Simone de
Beauvoir argumentaram que o ser humano não nasce com um propósito pré-definido,
mas constrói sua essência ao longo da vida por meio de suas ações e decisões.
Assim, o destino não é algo determinado por forças externas, mas moldado pela
liberdade individual e pela responsabilidade que cada um assume sobre suas
escolhas.
Na
sociedade contemporânea, essa ideia se torna ainda mais relevante. Vivemos em
um mundo onde frequentemente buscamos justificativas externas para nossas
dificuldades – seja na política, na economia ou em fatores sociais. Embora
esses elementos tenham impacto significativo na vida das pessoas, o
existencialismo nos lembra que, independentemente das circunstâncias, somos os
principais responsáveis por dar sentido à nossa trajetória. Essa visão pode ser
libertadora, pois nos retira da posição de vítimas do destino e nos coloca no
papel de protagonistas de nossa história.
No
entanto, essa liberdade vem acompanhada de um peso considerável: a angústia
existencial. Ao perceber que não há um destino pré-definido e que cada escolha
carrega consequências, o ser humano pode se sentir sobrecarregado pela
responsabilidade de tomar decisões. Sartre chama isso de “condenação à
liberdade” – não podemos fugir da necessidade de escolher, e cada escolha
define quem somos. Diante disso, muitos preferem se esconder atrás de
convenções sociais ou crenças deterministas para evitar o fardo da autonomia.
Assumir
a responsabilidade pela construção do próprio destino exige coragem. Significa
encarar a incerteza, lidar com erros e aprender com eles. Implica também
reconhecer que cada passo dado contribui para a construção de um significado
pessoal, pois, como diria Sartre, "o homem está condenado a ser
livre". No fim, a grande questão existencialista não é se temos ou não
controle absoluto sobre a vida, mas sim o que fazemos com a liberdade que
possuímos. O destino não é um caminho traçado de antemão, mas uma estrada
construída a cada passo, onde a responsabilidade individual é a única certeza.
O
existencialismo foi abordado por diversos pensadores ao longo da história, cada
um trazendo interpretações e reflexões que influenciaram essa corrente
filosófica. Albert Camus, embora rejeitasse o rótulo de existencialista,
abordou temas similares, principalmente o absurdo da existência. Em O Mito de
Sísifo, ele questiona se a vida tem sentido e conclui que, mesmo sem um
propósito inerente, devemos encontrar nossa própria razão para viver. Para ele,
aceitar o absurdo e seguir vivendo de forma autêntica é um ato de revolta
contra a falta de sentido do universo.
Embora
anterior ao existencialismo moderno, Friedrich Nietzsche influenciou essa
corrente com sua crítica à moral tradicional e à ideia de destino. Ele defendia
que o homem deveria criar seus próprios valores, tornando-se o
"super-homem" (Übermensch), ou seja, um ser que supera dogmas e impõe
sua própria vontade ao mundo.
Martin
Heidegger trouxe uma abordagem mais metafísica ao existencialismo, focando na
questão do "ser". Em Ser e Tempo, ele explora como o ser humano está
sempre em um estado de "ser-no-mundo" (Dasein), ou seja, nossa
existência está constantemente conectada ao tempo, à cultura e às experiências.
Ele também fala sobre a "angústia", que surge quando percebemos nossa
finitude e a inevitabilidade da morte.
Considerado
um precursor do existencialismo, Søren Kierkegaard focou na angústia da escolha
e no dilema entre viver de acordo com convenções ou buscar uma existência
autêntica. Ele identificou três estágios da vida: o estético (busca pelo
prazer), o ético (compromisso com regras morais) e o religioso (entrega total a
Deus). Diferente dos existencialistas ateus, ele via a fé como uma solução para
a angústia existencial.
Os
pensadores existencialistas concordam que o ser humano é responsável por sua
própria existência e que a vida não possui um significado pré-estabelecido. No
entanto, cada um aborda essa ideia de maneira diferente: Sartre enfatiza a
liberdade, Camus destaca o absurdo, Nietzsche propõe a superação dos valores
tradicionais, e Kierkegaard vê na fé uma resposta para a incerteza da vida. O
existencialismo, portanto, não é um conjunto fixo de regras, mas um convite à
reflexão sobre o que significa existir e como podemos dar sentido à nossa
própria jornada.
Ronaldo Castilho é jornalista e bacharel em Teologia e Ciência Política, com MBA em Gestão Pública com Ênfase em Cidades Inteligentes