Uma reflexão sobre o celular nas escolas

Recentemente o Brasil uniu-se a outros países ao propor restrições de uso de dispositivos móveis em salas de aula. Esse tópico tem gerado inúmeras discussões com profissionais de diversas áreas, como deve ser quando se trata de prover e limitar o uso de tecnologias na educação e proteção das crianças na Internet.

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Na Holanda celulares, tablets e smartwatches foram proibidos, com exceção para crianças com necessidade especial, para o uso. Na Itália o controle vai ser rígido a partir de 2025 – nem aluno, nem professor poderão usar o celular nas escolas, mesmo que seja para fins educacionais. No México a restrição é para que se use apenas em emergências e atividades pedagógicas supervisionadas, já na Dinamarca a regra é mais flexível, quem define o uso é a escola.

O principal motivo da regulamentação do uso dos dispositivos pelas crianças no ambiente escolar está relacionado com problemas identificados por profissionais da saúde, educação, segurança digital entre outros que identificam os malefícios do uso excessivo de telas, a falta concentração​ – notificações e redes sociais fragmentam a atenção e a retomada é demorada. Eu gosto sempre de mencionar a professora da Universidade da Califórnia, Irvine, especialista em “Atenção no meio digital”, Gloria Mark que destaca que

“Retomar o foco após uma distração como uma notificação de celular pode levar, em média, 23 minutos e 15 segundos.” Gloria Mark

Consegue imaginar como seria em uma sala de aula? Essa fragmentação atinge diretamente a absorção do conteúdo e a dinâmica de aprendizado individual e em grupo. Sem mencionar que nem todos tem um dispositivo móvel na sala de aula, ou seja, não é uma ferramenta de inclusão, mas o oposto e o uso excessivo de tela são uma realidade que já é responsável por um aumento da ansiedade, depressão e isolamento dos adolescentes.

Por outro lado, o uso da tecnologia, em geral é muito benéfica desde que com propósito, organização e planejamento educacional. Integrar os dispositivos móveis desta maneira pode ser uma estratégia poderosa do uso da tecnologia e mitigação de riscos na escola.

Como pode ser feito?

1.     Primeiro de tudo, estabelecer as regras onde crianças e famílias sabem claramente quando, por quanto tempo e de que forma poderão ou não utilizar os dispositivos.

2.     Incorporar na proposta pedagógica o uso do celular para a realização de atividades da escola – o que pode ser complexo porque depende de implantação de plataforma de aprendizado, aplicativos como de reforço escolar, atividades colaborativas, entre outros.

3.     Treinar Educadores para o uso integrado dos dispositivos na prática educacional. Por exemplo: Realizar documentário com as crianças onde o celular filma e pode ser a ferramenta de edição.

4.     Educar para o uso responsável: É uma grande oportunidade educar as crianças, explicar o porquê dessas mudanças, formar replicadores conscientes.

5.     Usar o dispositivo móvel para pesquisas, elaboração de conteúdo em grupo. Com organização e supervisão é possível. Segundo a pedagoga Débora Camargo, coordenadora de educação básica do Colégio Mackenzie, o uso pedagógico dos celulares pode dinamizar as aulas, aumentar o engajamento dos alunos e facilitar o acesso às informações, desde que controlado e planejado​.

Acredito que o grande desafio seja equilibrar o uso pedagógico com a necessidade de controle e supervisão do uso. Essa tarefa recai sobre os educadores, que já enfrentam demandas significativas para assegurar uma educação regular e progressiva.

Controlar significa garantir que os dispositivos sejam utilizados exclusivamente para fins educativos, o que requer ferramentas adequadas, além de treinamento contínuo dos educadores. É possível minimizar essa sobrecarga com soluções tecnológicas e responsabilidades divididas com a gestão escolar, governo e famílias. Além disso é essencial promover a educação dos alunos para o uso responsável da Internet já que sempre falamos aqui dos riscos.

Sem esses mecanismos, a inclusão de dispositivos móveis nas escolas traz mais desafios do que soluções para a educação. Vale a reflexão!

Colunista: 


Karina Queiroz é mãe, casada e possui 27 anos de experiência na área de Tecnologia e Segurança Cibernética. Fundadora do Teckids e Hackshield Brasil, Karina é uma consultora executiva renomada, com passagens por grandes empresas como BAT, Latam Airlines, PwC, Santander e Rabobank, onde ocupou cargos técnicos e gerenciais. Ela possui certificações importantes, como CISSP e CISM, além de especializações no MIT e HarvardX. Em 2022, foi reconhecida como uma das 25 principais mulheres em cibersegurança da América Latina. Karina lidera iniciativas de proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital e é palestrante em congressos nacionais sobre segurança, cibersegurança corporativa e ciber guerra.

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