A origem das festividades juninas.
As festividades juninas também têm suas raízes nas celebrações pagãs e religiosas associadas ao solstício de verão no hemisfério norte, que remontam a cultos realizados por diferentes povos ao redor do mundo para celebrar uma data que marca o período de maior luminosidade do ano, onde o solstício ocorre no final de junho. Essas celebrações eram comuns entre os povos celtas, germânicos e escandinávos em homenagem aos deuses da natureza e da fertilidade, e as fogueiras faziam parte da tradição.
Os colonizadores portugueses adaptaram as festividades juninas ao contexto brasileiro, incorporando elementos da cultura indígena e africana presentes no país. Assim, as festas juninas no Brasil se tornaram uma mistura de influências, com danças típicas, como a quadrilha, música, fogos de artifício e comidas tradicionais, como o milho e a canjica.
A imigração portuguesa contribuiu para a manutenção e a disseminação das festas juninas no Brasil, uma vez que os portugueses trouxeram suas tradições e as compartilharam com a população local. Essa fusão cultural entre os portugueses e as culturas nativas resultou em uma celebração rica e diversificada, que se tornou uma importante expressão da cultura brasileira.
Com o processo de conversão ao cristianismo, a Festa Junina sofreu algumas mudanças. Considerando que a igreja não conseguia acabar com sua popularidade, a Igreja Católica atribuiu as festas juninas a santos populares, principalmente a São João Batista, São Pedro e Santo Antônio. Esses santos passaram a ser celebrados nas festas juninas como uma forma de vincular as tradições pagãs ao contexto cristão, os elementos e símbolos das festas juninas foram reinterpretados dentro do contexto cristão.
A Fogueira :
Para os pagãos no solstício de verão e nos festejos juninos, a fogueira possui um significado simbólico e ritualístico. O solstício de verão marca o ponto do ano em que o sol atinge sua maior altura no céu e os dias são mais longos do que as noites, representando o ápice do poder do sol e a celebração da fertilidade, da colheita e do ciclo da vida.
A fogueira, nesse contexto, simboliza a luz, o calor e o poder do sol. Ela é acesa como um ato de reverência ao sol e como um meio de honrar e celebrar sua energia vital. Acredita-se que pular sobre as chamas da fogueira ou circular ao seu redor traga proteção, purificação e renovação para aqueles que participam do ritual.
Além disso, a fogueira também tinha um propósito prático para os pagãos. Ela era usada para espantar os maus espíritos e afastar insetos indesejados, além de proporcionar calor e iluminação durante as festividades noturnas.
Com a cristianização das festividades pagãs, a fogueira passou a ter um novo significado nos festejos juninos, sendo associada à luz de Cristo e à purificação espiritual. No contexto católico, a fogueira é abençoada pelo sacerdote e representa a presença divina e a purificação dos fiéis.
Assim, a fogueira desempenha um papel central nas festividades juninas, tanto para os pagãos quanto para os cristãos, simbolizando a energia vital do sol, a renovação e a proteção espiritual.
A música :
A música desempenha um papel fundamental nos festejos juninos no Brasil, e a influência portuguesa é uma das principais nas tradições musicais dessas festividades. Os colonizadores portugueses trouxeram consigo uma rica tradição musical, que se mesclou com as influências indígenas e africanas presentes no país, resultando em uma variedade de estilos e ritmos musicais nas festas juninas.
A música nos festejos juninos tem características marcantes da música popular portuguesa, como a presença de instrumentos como a viola, a sanfona (acordeão) e o tambor. Além disso, o estilo musical conhecido como "música pimba", que é popular em Portugal, também teve influência nas festas juninas brasileiras. A música pimba é caracterizada por melodias animadas, letras simples e temas relacionados ao amor, à festividade e à vida rural.
Um dos gêneros musicais mais tradicionais e emblemáticos dos festejos juninos é o forró. O forró tem suas raízes no Nordeste do Brasil e foi influenciado por diversos estilos musicais, incluindo a música popular portuguesa. A presença de instrumentos como a sanfona (acordeão), a zabumba (um tipo de tambor) e o triângulo na música de forró pode ser atribuída à influência portuguesa. A sanfona, em particular, é um instrumento de destaque nas festas juninas e tem origem europeia, sendo trazida pelos colonizadores portugueses.
Além do forró, outros estilos musicais como o baião, o xote e o arrasta-pé são comumente executados nas festas juninas. Esses estilos possuem influências tanto da música portuguesa quanto de elementos musicais indígenas e africanos, criando uma sonoridade única e contagiante.
As letras das músicas nos festejos juninos muitas vezes tratam de temas relacionados à vida no campo, ao amor, à festividade e às tradições juninas. As canções costumam ser alegres, animadas e convidam as pessoas a dançar e se divertir.
A dança :
A dança também está intimamente ligada à música nos festejos juninos. Sua origem remonta ao século XIX, durante o período colonial brasileiro, e sua evolução está relacionada à influência das danças de salão europeias, especialmente a contradança.
A contradança sofreu adaptações e assimilações às culturas locais tornando-se uma dança popular nas festividades juninas brasileiras. A partir dessas transformações, surgiu a quadrilha junina como uma manifestação específica para celebrar as festas juninas.
A quadrilha possui passos coreografados e é realizada em pares, com figuras e comandos que são anunciados por um marcador. É uma dança coletiva, realizada em grupos e organizada em pares de dançarinos. Cada par tem uma posição específica no salão e segue comandos dados pelo marcador, que anuncia os passos e as figuras da dança. As figuras da quadrilha incluem saudações, trocas de pares, evoluções em círculo, formações em cruz e outras sequências coreografadas.
Além dos passos coreografados, a quadrilha junina também possui características visuais marcantes. Os participantes vestem trajes típicos, geralmente inspirados na vestimenta camponesa do século XIX, com vestidos e saias rodadas para as mulheres e trajes de camponeses para os homens. Os trajes são coloridos, adornados e contribuem para a atmosfera festiva.
Ao longo dos anos, a quadrilha junina se tornou uma tradição popular em todo o Brasil, com variações regionais e estilos específicos em diferentes localidades. A dança é realizada em festas juninas, arraiais, escolas, clubes e diversos eventos culturais.
Comida típica :
O milho é um ingrediente essencial nas comidas típicas dos festejos juninos no Brasil. Sua origem remonta aos povos indígenas que cultivavam e consumiam o milho há milhares de anos antes da chegada dos colonizadores europeus. Ele simboliza a colheita, a abundância e a conexão com a natureza, sendo utilizado em rituais, festividades e como ingrediente central em pratos festivos. O milho é uma representação dos ciclos da vida, da renovação e da gratidão pela terra e seus frutos.
Com a colonização e a introdução de novos ingredientes e técnicas culinárias, o milho passou a ser utilizado de maneiras variadas nas festas juninas. Durante o período colonial, os portugueses também trouxeram suas próprias tradições culinárias, que se mesclaram com a cultura indígena e africana, resultando na diversidade de pratos que temos hoje nas festividades juninas.
Entre as comidas típicas à base de milho nas festas juninas, destacam-se o bolo de milho, a canjica, a pamonha, o curau, a pipoca, o milho verde cozido e a paçoca de amendoim, que geralmente são consumidos quentes ou em temperatura ambiente. Esses pratos são preparados de diferentes maneiras, utilizando-se o milho em sua forma fresca, em grãos, em forma de farinha ou de fubá.
Essas comidas à base de milho estão associadas à colheita e à fartura, já que o milho é uma planta muito cultivada e abundante no Brasil. Além disso, o milho é rico em carboidratos e fibras, proporcionando energia e saciedade, características importantes para enfrentar as festividades e as danças típicas dos festejos juninos.
O milho também está relacionado a crenças e superstições ligadas ao período junino. Acredita-se, por exemplo, que as plantações de milho fiquem protegidas de pragas e perigos durante as festas juninas. Além disso, há a tradição de fazer uma simpatia de plantar um pé de milho durante o São João para trazer prosperidade e abundância.
O milho é um ingrediente versátil e simbólico, associado à colheita, à fartura e ao sabor característico das festas juninas.
Boas festas !
Júnior Sá.
Colunista e Historiador.