Por Adriana Passari -
@adrianapassari
Quem tem, tem medo
Rua Boa Morte. Terça-feira. 10
horas da manhã. Calor. Obras. Trânsito. Procuro uma vaga. Encontro. Estaciono.
Logo sou abordada por uma “autoridade da rua”, desses que tem cara de quem não
passaria no teste do bafômetro a um metro de distância.
O cidadão vê que estou colocando
o cartão da zona Azul no painel do veículo e vai logo dizendo: “não precisa
não, dona”. Mas tem placa informando que aqui é área de zona azul, argumento.
Ele retruca: mas aqui nem precisa, ninguém fiscaliza. Posso olhar? Me diz ele,
oferecendo o serviço de segurança e proteção patrimonial. No caso, ficaria de
olho no meu carro, para que nenhum bandido se atrevesse a mexer no seu interior
ou levá-lo de vez. Receosa, não me arrisco a dizer que não. Digo sim, pode sim,
por favor.
O carro não é o melhor, ou mais
novo, mas é meu. E foi pago em suaves prestações que couberam no orçamento
mensal por um longo tempo. Não sobrou para o seguro. Tranco meu carro e dou as
costas para eles, o carro e o guardador. Rezando. Uma sensação de insegurança
quase me faz dar meia volta e ir embora. Mas paciência.
O compromisso me espera. A preocupação me acompanha, mas só por alguns momentos. Logo me vejo envolvida com as atividades do dia e mudo o foco da atenção. Encerrada a obrigação, me preparo para pegar o caminho de volta. Fecho as gavetas, tranco o armário, verifico a bolsa e pego as chaves. Do carro. A tensão aparece de novo. Penso no carro, meu transporte diário, que me facilita a vida, quase nunca me deixa na mão. Caminho pensando nele e na volta, a surpresa. O carro está lá. Intacto. Pura sorte. Escapei de novo. Do guardador, não senti nem o cheiro desta vez.
Ouça a história na voz de Adriana Passari: