IMIGRAÇÃO JUDAICA NO BRASIL.
O Brasil é um país plural nos seus hábitos, músicas, danças, sotaques e festas. Nosso DNA reflete toda essa mistura que formou o nosso país, pelo encontro de povos de diferentes ancestralidades que chegaram com as imigrações que ocorreram ao longo dos anos, como a imigração judaica.
Os judeus correspondem atualmente a cerca de 120 mil pessoas no Brasil. A comunidade judaica brasileira é a segunda maior e a mais antiga da América Latina.
No Brasil, a maior parte dos judeus está na região sul e sudeste, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na região norte, existem pequenas, porém historicamente importantes, comunidades em cidades como Belém do Pará.
Origens do povo judeu :
As origens do povo judeu estão em uma região que historicamente foi conhecida como Levante e que hoje engloba partes do Oriente Médio, incluindo os territórios de Israel, Palestina, Turquia, Jordânia, Líbano e Síria.
Região historicamente conhecida como Levante.
Os antigos israelitas ou hebreus, que depois passaram a ser chamados de judeus, surgiram pela união de diferentes povos que habitavam a região do Levante, por volta de 2 mil anos aC, e compartilhavam crenças religiosas, costumes e ancestralidade. Com o passar do tempo e por diferentes razões, como conflitos com outros povos, eles migraram para outros lugares.
Os judeus são um grupo etno-religioso que possui uma grande variedade de culturas, línguas e tradições religiosas.
De forma geral, considera-se judeu uma pessoa que tem como religião o Judaísmo e, em teoria, descende dos antigos hebreus. A palavra judeu surgiu para nomear aqueles que nasciam na Judéia, que corresponde hoje a uma parte do território de Israel.
Existem muitos símbolos que remetem ao Judaísmo, como o menorá, candelabro de 7 velas, e o quipá, pequeno “chapéu”.
Etnias judaicas :
Ao longo de sua história, os judeus sofreram com perseguições e conflitos e, por consequência, mudaram para diversos lugares. Com isso, tiveram contato com diferentes povos e as suas manifestações culturais, religiosas, linguísticas e até culinárias foram incorporando elementos de outros grupos.
Entre os grupos étnicos dos judeus estão:
Judeus Ashkenazim: judeus estabelecidos na Europa Central e Oriental e seus descendentes.
Judeus Sefaradim: judeus estabelecidos no território da Península Ibérica (Portugal e Espanha), Norte da África e seus descendentes.
Judeus Iemenitas: judeus estabelecidos no Iêmen e seus descendentes.
Judeus Mizrahim: judeus estabelecidos no Oriente Médio, que inclui os judeus vindos do Iraque, Irã, Líbano, Síria e seus descendentes.
Genética e a ancestralidade dos judeus :
Vários estudos já foram feitos para compreender a genética da ancestralidade judaica. Recentemente, cientistas sequenciaram o DNA encontrado em dentes descobertos em um cemitério medieval usado por judeus na Alemanha e descobriram que provavelmente a população de judeus ashkenazim atual foi formada por uma mistura de judeus com ascendência no Oriente Médio e de judeus com ascendência na Europa Oriental e Central. Após esse período de contato e “mistura” de DNA entre pessoas desses grupos, os judeus ashkenazim permaneceram praticamente isolados de outros povos.
Nesses casos de isolamento é muito frequente a união entre pessoas aparentadas (consanguinidade) e algumas doenças genéticas podem se tornar comuns nessa população.
Imigração judaica no Brasil :
Foi aqui no Brasil que se instalou a primeira comunidade judaica das Américas. Conheça alguns momentos importantes da imigração judaica no Brasil.
No século 16 chegaram os primeiros grupos de judeus ao Brasil. Eram judeus sefarditas (alguns recém-convertidos, chamados cristãos-novos) que vieram fugindo da perseguição feita pela Inquisição Católica Portuguesa, que os expulsou da Península Ibérica.
Alguns desses imigrantes conseguiram prosperar como grandes comerciantes e senhores de engenho, comercializando mercadorias diversas e até atuando no tráfico de escravizados vindos da África. Já outros passaram a trabalhar como lavradores e pequenos artesãos.
No século 17, com a ocupação holandesa no nordeste, vieram para o Brasil mais judeus, dessa vez da Holanda, que em 1636 fundaram na cidade do Recife a primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel.
Já no século 19, com a expansão do ciclo da borracha e com a exploração de metais preciosos, chegaram ao Brasil outros grupos de judeus sefarditas, judeus mizrahim e judeus ashkenazim. Eles migraram principalmente para a região norte do país, em cidades como Manaus e Belém do Pará.
Uma vida melhor no Brasil :
Na Europa do século 19, ocorreu uma grande perseguição em massa contra os judeus, que chegaram a ter seus bens roubados e imóveis saqueados. Por esses e outros motivos, muitos judeus resolveram sair de seu lugar de origem e buscar uma vida melhor onde não fossem perseguidos, como no Brasil.
No início do século 20, durante o período da Primeira Guerra Mundial, a imigração judaica se intensificou: cerca de 50 mil judeus entraram no Brasil. Eram judeus do Norte da África, da região da Turquia e também vindos principalmente da Polônia, Rússia e Ucrânia. Eles ocuparam diferentes partes do país, principalmente Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
A partir de 1930 e durante a Segunda Guerra Mundial, judeus alemães também chegaram ao Brasil, fugindo das atrocidades e perseguição que sofriam.
Com o tempo, muitos dos judeus que chegaram ao Brasil se tornaram prósperos comerciantes do atacado e varejo e se fixaram em importantes áreas comerciais. A maior parte dos judeus preferiu ir morar nas cidades, diferentemente do que aconteceu com outros imigrantes, como os italianos, que foram para as áreas rurais do Brasil.
Contribuições da imigração judaica para o Brasil :
Conforme foram se ambientando e convivendo com a cultura do Brasil, os judeus passaram a se integrar mais à sociedade brasileira e foram importantes para a fundação de bibliotecas, jornais, escolas, associações, centros comerciais, grupos de apoio à imigrantes e hospitais. Confira outras contribuições dos judeus para nosso país:
Primeira sinagoga:
Um marco histórico, a primeira sinagoga fundada nas Américas, Kahal Zur Israel, fica em Recife (PE) e é um importante monumento aberto à visitação para quem quiser conhecer mais a respeito da cultura, religião e imigração judaica no Brasil.
A sinagoga é uma forma de preservar a memória da vida dos judeus que aqui chegaram durante a história colonial brasileira.
Crenças e costumes:
Alguns costumes que fazem parte do cotidiano de muitos brasileiros podem ter se originado de costumes judaicos e dos cristãos-novos (judeus que se converteram). Conheça alguns desses hábitos que ajudaram a formar a identidade brasileira:
Falar “Deus te crie” após o espirro: tem origem no hebraico e significaria ”tenha uma boa vida, com saúde”;
Varrer a casa da porta para dentro: costume que muitos brasileiros têm para não jogar a sorte fora do lar;
Pedir a benção aos pais ao sair e voltar de casa: remete a um antigo costume judaico religioso;
Antes de beber, deixar uma parte da bebida para o “santo”: vem do ritual hebraico milenar de reservar, em algumas celebrações especiais, parte do vinho para o profeta;
Usar roupas novas ou limpas aos sábados: é uma forma de tornar especial o dia, que para os judeus é considerado de descanso.
Palavras:
Palavras de origem hebraica foram mescladas ao português e ao espanhol, ainda quando os judeus habitavam a Península Ibérica, e posteriormente trazidas para o Brasil. Muitas dessas palavras têm um aspecto religioso, como aleluia, bálsamo, querubim e messias.
Quando chegaram ao Brasil, os judeus mesclaram seus costumes com os costumes dos povos que aqui estavam, como forma de poderem expressar – ainda que não totalmente – sua cultura e evitar a perseguição.
Dia Nacional da Imigração Judaica :
A data de 18 de março celebra o Dia Nacional da Imigração Judaica e foi escolhida pois marcou, em 2002, a reinauguração da mais antiga sinagoga das Américas. O dia é especial para celebrar e reconhecer a importância da imigração judaica e das inúmeras contribuições dos judeus para a cultura e o povo brasileiro.
Júnior Sá.
Colunista e Historiador.
