O novo ano começa com ações referentes ao Janeiro Verde, mês dedicado à
conscientização sobre a importância da prevenção e do diagnóstico do câncer do
colo de útero, terceiro tumor maligno mais frequente e a quarta causa de morte
por câncer entre mulheres no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer
(INCA).
Em 2021, foram estimados 16.760 casos da doença no país, número que, em
2023, saltou para 17.010, mostrando que o câncer de útero está aumentando de
incidência no Brasil. “Pelo menos 6.380 mulheres deverão morrer ainda este ano
no país devido a este tumor”, alertou a médica oncologista Mary da Silva
Thereza, diretora do CECAN-Centro do Câncer da Santa Casa de Piracicaba,
referência em oncologia para Piracicaba e região.
Ela conta que esta realidade se repete também no CECAN, onde o
câncer do colo de útero aumentou em 23% de incidência no período de 2002
a 2023. “Só nos últimos dois anos, de 2021 para 2023, o aumento foi de 30% na
Unidade Oncológica, onde o tumor reponde por 9,5% de todos os casos de câncer
tratados”, disse.
Segundo ela, 99% dos casos de câncer de colo do útero são causados pela
infecção persistente do Papilomavírus Humano, mais conhecido como HPV. “A
principal via de contágio com o HPV é a sexual, de forma que o uso de
preservativo é fundamental para diminuir o risco de transmissão e infecção”,
disse a oncologista.
Segundo ela, o HPV é uma IST, ou seja, uma infecção sexualmente
transmissível comum, que acomete cerca de 54,6% dos jovens entre os 16 e 25
anos, podendo causar alterações nas células do colo de útero. “É imprescindível
prevenir a infecção pelo vírus e evitar os casos graves”, disse Mary Thereza,
lembrando que a vacina contra o HPV está inserida no calendário vacinal e é
indicada para meninas e mulheres de 9 a 26 anos de idade e meninos de 9 a 14
anos.
A oncologista explica que existem mais de 200 tipos de HPVs conhecidos,
sendo dois deles, o HPV nº16 e o HPV nº 18, responsáveis por cerca de 70% dos
casos de câncer do colo de útero; embora outros tipos também aumentem os riscos
da doença em menor grau.
Vacina tem até 90% de proteção contra o HPV
A oncologista Mary da Silva Thereza lembra que a vacina contra o HPV foi
incluída no calendário nacional de vacinação em 2014, sendo ofertada
gratuitamente para meninas de 9 a 14 anos de idade, em duas doses, com
intervalo de seis meses entre elas.
Ela conta que a vacina é uma das medidas mais eficazes para prevenir o
câncer do colo de útero; ela é segura e eficaz e pode prevenir a infecção por
HPV e o desenvolvimento de lesões pré-cancerosas, podendo chegar a mais de 90%
de proteção contra os cânceres ligados ao HPV, principalmente quando tomada
antes da primeira relação sexual.
“Como a proteção não é 100%, os exames preventivos devem continuar mesmo
após a vacina, pois ela não trata as doenças causadas pelo HPV e já instaladas,
mas pode proteger contra doenças contemplados pela vacina que ainda não tenham
infectado a paciente”, explicou.
A adesão à vacinação, entretanto, ainda é baixa no Brasil. Segundo a
oncologista, em 2021, apenas 60% das meninas na faixa etária dos 14 anos e 35%
dos meninos estavam vacinados com as duas doses, quando o ideal seria manter
essa taxa em 80%.
“A baixa adesão é explicada pela falta de informação e conscientização
sobre a importância da vacina; crenças equivocadas de que a vacina estimula a
promiscuidade sexual; e dificuldade de acesso à vacina devido a não oferta em
todas as unidades de saúde”, avaliou a oncologista. Para aumentar a adesão, ela
sugere a intensificação de campanhas, a desmistificação de crenças e garantia
de que a vacina esteja disponível nas unidades de saúde.
Mary Thereza revela que cerca de 80% das mulheres sexualmente ativa
entrarão em contato com o HPV ao longo da vida, sendo que pelo menos 5% delas
vão desenvolver o tumor maligno em um prazo de dois a dez anos. “A maioria das
infeções, entretanto, é transitória e o sistema imunológico é capaz de
eliminá-la”, explica.
Ela lembra que o câncer do colo de útero apresenta como principais
sintomas corrimentos, dores na região pélvica e sangramentos irregulares
durante e após as relações sexuais; e que os exames de rotina devem ser feitos
por mulheres a partir do início da vida sexual.
Segundo a oncologista, é possível detectar lesões pré-cancerosas durante
a realização do exame preventivo Papanicolau, que deve ser realizado
periodicamente, pois quando a doença é detectada no início, ela pode ser curada
na maioria dos casos.