O Banco Mauá


Tendo participado ativamente no processo de consolidação e centralização do Estado, o negociante Irineu Evangelista de Souza, futuro Barão, depois Visconde de Mauá, juntamente com um grupo de grandes comerciantes, comissários e capitalistas, organizaram em 30 de maio , a MacGregor & Cia. 


O Banco foi criado com o intuito de propiciar capitais para o desenvolvimento do país, que então tinha sua economia na agricultura e com mão de obra escrava.


Ao lado de outros 179 sócios, entre eles Alexander Donald MacGregor, negociante nascido em Liverpool, que representava a empresa em Londres. Além da matriz no Rio de Janeiro, a instituição contava com filiais em várias capitais brasileiras e no exterior como Paris, Nova Iorque, Manchester, Buenos Aires, Montevidéu, Rosário e Córdoba. 


Seu capital nominal era duas vezes maior que o do principal banco brasileiro da época, o Banco Comercial do Rio de Janeiro, cujo capital nominal montava a 5.000 contos. Os 10.000 contos do banco de Mauá estavam divididos em vinte mil ações de 500.000 réis cada. 


Em 1851, Mauá fundou o Banco do Brasil, emissor de vales que entraria em acirrada concorrência com o Banco Comercial na praça do 

Rio de Janeiro. O aperto monetário experimentado em 1852 levou o então Ministro da Fazenda, Rodrigues Torres, um defensor do monopólio de emissão de moeda, a fundir os dois 

bancos numa nova instituição bancária vinculada ao Estado. A fusão foi, sem dúvida, uma intervenção direta do governo nos seus negócios financeiros e ensejou o argumento, 

apresentado em sua Autobiografia, de que esse tipo de atuação teria sido uma das motivações de sua falência. Entretanto, insatisfeito com os rumos da fusão, frustrado em sua expectativa de poder, Mauá se reuniu a um grupo de capitalistas também descontentes com a situação e criou um novo banco, o Mauá, MacGregor & Cia


Não obstante, a prática de Mauá nem sempre correspondia 

ao seu discurso de empreendedor liberal. Apesar de defender o espírito de associação e a livre iniciativa, os negócios de Mauá eram relativamente dependentes do Estado e, contrariando seu discurso, o Barão nem sempre se sentia confortável com a concorrência contra seus empreendimentos.


Em 1856, Mauá criou, inicialmente, uma casa comercial em Montevidéu que emitia bilhetes e descontava letras. É imprescindível chamar a atenção do leitor para o fato de que a 

atuação do banco no Uruguai é importante para entender o processo de falência do Banco Mauá & Cia. em 1875. Ao contrário do que muitos podem pensar, a relação de Mauá com o Uruguai não se estabeleceu apenas após a guerra do Paraguai. Os seus negócios no país vizinho foram oficializados em 1857, quando ele e Richard Carruthers transformaram a casa comercial criada em 1856 em um banco de depósito, desconto e emissão de notas com o nome de Banco Mauá & Cia. Segundo Guimarães (1997, p. 5), o banco constituiu-se numa das partes mais importantes do esquema mercantil e financeiro de Mauá em decorrência do comércio existente entre as regiões do Sul do Uruguai e o Brasil. 


O Banco Mauá financiou entre outros:


O projeto de iluminação a gás na cidade do Rio de Janeiro através da Cia de Iluminação a Gás, substituindo o óleo de baleia.


A organização da Cia de Navegação no Amazonas , onde esperava integrar a vastíssima floresta ao restante do país. 


O estabelecimento da companhia de bondes do Rio de Janeiro, Estrada de Ferro de Recife a S. Francisco, Companhia Diques Flutuantes e Companhia de Curtumes Estrada de Ferro de Antonina a Curitiba Montes Áureos Brazilian Gold Mining Co. 


A construção da primeira ferrovia no país, a Estrada de Ferro Rio-Petrópolis. Este feito lhe rendeu o título de Barão de Mauá. 


A participação na construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí.


Abastecimento de água à capital do Império. O assentamento do cabo telegráfico submarino entre Brasil e Portugal (1874). Foi este projeto que lhe rendeu o título de Visconde de Mauá. 


Em 1º de janeiro de 1867 a Casa Mauá MacGregor & Cia. foi transformada no Banco Mauá & Cia. Na crise de 1864, o Governo auxiliou o banco de Mauá. Na exposição aos credores, Mauá afirmou que sem esse auxílio sua casa bancária certamente teria sucumbido com as outras. O Banco Mauá & Cia. sobreviveu até 1878.


Em sua Autobiografia, Mauá aponta seis motivos para o seu infortúnio: (1) o veto do governo ao uso da sociedade comandita por ações do Banco Mauá, MacGregor & Cia; (2) as leis financeiras; (3) as decisões dos tribunais; (4) o montante de dinheiro empregado na estrada de ferro Santos 

Jundiaí; (5) os problemas enfrentados pelo banco no Uruguai; e, por último, (6) a negativa da 

liberação de crédito por parte do Banco do Brasil que seria crucial para salvar a imagem do crédito do Banco Mauá & Cia. na Europa. 


               Júnior Sá.

    Colunista e Historiador.

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