Pandora ficou 45 dias perdida
e Zoe, em vez de chegar em Fortaleza, foi parar no Rio
Eliana Teixeira
A cachorra Pandora ficou 45
dias perdida – ela sumiu durante conexão de um voo da Gol, em 15 de dezembro,
no Aeroporto de Guarulhos (SP) – e foi reencontrada por um funcionário de uma
empresa terceirizada que presta serviços no local. Cansada, desidrata e
desnutrida – Pandora emagreceu 8 quilos -, a cachorra precisou ser internada em
um hospital veterinário na Região do ABC, em São Paulo. O caso envolve, além do
sofrimento do animal, o desgaste e a tristeza vividos pelo garçom Reinaldo
Junior, o tutor de Pandora, que pagou à companhia aérea uma passagem no valor R$
850, mais R$ 650 da caixa obrigatória para o transporte, para que a cadela
chegasse ao desembarque correto. O mínimo que se espera, ao contratar esse tipo
de serviço, é que seu animalzinho de estimação chegue ao destino e, em
segurança, que deveria ser o básico oferecido pela empresa. Seria a falta de segurança,
ou de rastreio de animais transportados, ou de treinamento dos funcionários, ou
algo do tipo, por parte da empresa: ‘e eu com isso, quer que eu faça o quê’? Parece
que a pandemia não é apenas de Covid, mas também da praga do: ‘e eu com isso?’.
Enquanto o tutor de Pandora pôde
viver a alegria de tê-la novamente, nessa quarta-feira (2), um outro caso chamou
a atenção. Embora, o animal de estimação não tenha saído do aeroporto, foi
parar em local diferente do seu destino. Nesse outro caso, a tutora Priscila
Carneiro aguardava a cadela Zoe em Fortaleza (CE), mas por uma falha da Latam,
empresa aérea que a transportava, a cachorra foi parar no Aeroporto Galeão, no
Rio de Janeiro. Segundo a Latam, Zoe foi parar no Rio de Janeiro “por questões
operacionais”. A empresa garantiu que a cachorra teve acompanhamento
veterinário e que o desembarque correto, em Fortaleza, estaria previsto para as
18 horas de quinta-feira (3).
Dois casos distintos, com
falhas operacionais e, volto a questionar, seria a moda do: ‘e eu com isso,
quer que eu faça o quê’? Como especialista em Gestão de Pessoas, costumo
observar bastante – desde o atendimento à entrega final do serviço prestado –
empresas de diferentes setores. E a tal falha operacional já era significativa
antes da pandemia, em muitas organizações. Com a pandemia, é inegável que a
neurose, a tristeza e o estresse coletivos afetaram ainda mais as relações
pessoais e profissionais.
É importante que gestores de
RH (Recursos Humanos) de grandes empresas como as de transporte aéreo,
enxerguem a necessidade de furar a bolha do ‘e eu com isso?’ que paira em
muitas organizações. Empresas têm que enxergar o estresse, o cansaço de seus
funcionários, que precisam de treinamentos, descanso, remuneração satisfatória
para lidar com humanidade com os clientes.
Para MEIs (Microempreendedores
individuais, microempresas, empresas de pequeno porte, artesãos, ou mesmo candidatos
a empresários, é comum o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas), por exemplo, oferecer cursos gratuitos e on-line de
atendimento ao cliente. Mas o que não dá para cultivar é o tal do: ‘e eu com
isso, quer que eu faça o quê’?
Eliana Teixeira é pós-graduada
em Gestão de Pessoas e jornalista – www.ocanaldalili.com.br