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12/11/2021 15H40
A trágica morte da cantora Marília Mendonça trouxe uma série de fatos que nos levam a uma profunda reflexão, a começar pela enorme repercussão mostrando o tamanho de sua representatividade, especialmente entre as mulheres.
Marília conseguiu com as músicas que cantava, todas de sua autoria, exteriorizar um sentimento represado em milhões de mulheres que, sem ter como se manifestar, cantavam, numa demonstração do poder que um ídolo tem.
No universo sempre machista de letras que transformavam as mulheres em fonte de sofrimento e amargura, Marília, sem nenhum esforço, mostrou exatamente o contrário, ou seja, que a exemplo dos homens, elas tem sentimentos, sofrem com a mesma intensidade, bebem para afogar as mágoas, traem da mesma forma que são traídas e querem ser tratadas com muito amor, respeito e carinho.
Marília tinha um enorme diferencial: conseguiu, com sua postura humilde, atrair milhões de fãs e admiradores, em todos os segmentos e isso ficou patente nas inúmeras manifestações de pesar no Brasil e no mundo.
Ela levantou a bandeira do feminismo de uma forma natural e politicamente correta e combateu, a exemplo de muitos outros problemas, a misoginia, mas a morte dela trouxe a luz uma série de outros aspectos, como o preconceito e a gordofobia.
Na caso mais contundente de racismo um fã postou uma foto do velório da cantora e colocou na legenda que a mãe dela precisou ser amparada por um "segurança". No caso, o "segurança" era nada mais nada menos, do que o padrasto de Marília, um cidadão preto, forte e de terno. Os exemplos de gordofobia foram mais sérios porque partiram de pessoas esclarecidas, como o caso de um articulista da Folha, que no texto escreveu que "apesar de gorda, ela fazia sucesso".
A apresentadora Ana Maria Braga afirmou no Mais você, que "agora que Marília estava atingindo o shape que sempre quis, ela faleceu" dois exemplos clarissimos de como é extenso o caminho a ser percorrido até que as mulheres atinjam um patamar de igualdade, numa sociedade preconceituosa, machista, homofobia com um racismo estrutural fortíssimo.
Descanse em paz, Marília Mendonça, sua vida não foi em vão.
Colunista: Carlos Eduardo Gaiad - Jornalista