O medo é uma forma de morte
Passamos uma vida temendo a morte. Não todos, mas a maioria de nós com certeza. É o medo mais humano e constante.
Tememos a nossa doença, a de nossos pais, filhos, familiares todos, amigos, conhecidos. Tememos os incidentes e acidentes, e a falta de sorte, e os obstáculos e desafios. Temendo os riscos, deixamos de ousar e de aprender e progredir. Em meio às dúvidas, titubeantes, agimos em "meia fase" tantas vezes! Ou até uma existência toda em "meia fase"! Nada inteiro e com toda a potência ... só desviando e contornando, na ilusão de que estamos controlando o o inevitável: o fim!! E nesses novos tempos o tic-tac parece que ganhou também um novo ritmo: está tudo acelerado e muito rápido, e urgente. E na urgência de realizarmos mais, vivemos ainda menos. Não vemos e não sentimos o tempo. Simplesmente tudo passa e a gente não assimila. Não internaliza.
Você sente que sobrevive ou você sente que vive?
Nossa correria seria uma espécie de FUGA do próprio tempo? Do natural que é a morte da nossa carne? Estaríamos tentando - inutilmente e estupidamente- fugir da nossa realidade de morte? Dos nossos medos?
Superocupação que não nos permite pensar em mais nada além das 'obrigações'. Rotina frenética que nos distrai da nossa própria morte diária. E até o exagero na disciplina da agenda que nos robotiza, nos impõe uma velocidade desumana, mas que ao mesmo tempo nos conforta pela sensação (falsa) do controle dos nossos dias.
Só que ninguém controla o tempo! No máximo organizamos um pouquinho aqui e ali pra conseguirmos algum 'norte' e certa eficiência.
A nossa correria 'planejada' nos distrai dos medos. Nos distrai também da essência e do fundamental. Nos afasta do mais importante e dos mais importantes em nossa vida. Racionalmente sabemos. Mas movidos pelo medo agimos feito loucos, correndo sem rumo, e tentando fugir dele próprio.
O mesmo medo que nos protege - que é determinante para nossa sobrevivência - nos paralisa e nos impede de VIVER!!! Paradoxo perfeito.
Temendo a morte, deixamos de viver. Medo é também morte.
Colunista: Gabriela Bertoli - Jornalista