Uma história sobre o desvelar-se...

 

Há algum tempo, conheci uma moça chamada Sofia. Sua maior dificuldade era o medo. Mas não era qualquer medo, era algo perturbador, que a deixava inquieta e extremamente insegura.

 

Certa noite, Sofia acordou extremamente aflita, sabia que havia sonhado embora não se lembrasse do sonho. Porém, ao abrir os olhos, imediatamente uma frase cortou-lhe o cérebro ainda sonolento: “vivo sob ameaça”! Sofia ficou extremamente incomodada com aquela frase pois sabia, mesmo não se lembrando de nenhuma cena do sonho, que ela tinha a ver com seu medo.

 

Levantou-se, tomou seu banho, sorveu o café e saiu para trabalhar. Mesmo focada no que fazia, o tal do medo estava ali, à espreita: uma palavra de alguém, uma sensação no corpo, um barulho qualquer e lá se apresentava ele como se tivesse vontade própria! Naquela semana, Sofia resolveu comentar com sua terapeuta sobre o sonho e o medo que vinha sentindo – ela fazia terapia semanalmente.

 

Após relatar sobre a frase e o que vinha sentindo e que a estava martirizando, a terapeuta ponderou com ela o quanto a realidade a sua volta não poderia estar fazendo com que certas memórias de momentos difíceis pelos quais havia passado junto a pessoas que amava, não poderia estar deixando estas memórias tão vívidas que as mesmas acabavam mostrando-se como uma ameaça: “se muitos dos que eu amo e outros tantos que estão à minha volta passam por isso, provavelmente irei passar também! Vai acontecer comigo! Não poderia ser isto o que está acontecendo com você, Sofia?”, perguntou a terapeuta.

 

Sofia ouviu atentamente a fala da terapeuta e as coisas começaram a fazer sentido, como se peças de um quebra-cabeça se juntassem imediatamente formando uma figura clara e evidente! Sim, a realidade à sua volta trazia-lhe lembranças de momentos de dor, de sofrimento e a sensação de estar diante de algo que se repetia em seu entorno levou-a a ter a impressão de que também iria passar por situação semelhante!

 

Após este momento de clareza, um verdadeiro insight, Sofia percebeu que seu medo, embora tivesse relação tanto com o que vivera como com o que estava acontecendo com outras pessoas à sua volta, não necessariamente teria que acontecer com ela. E isto foi libertador! Uma profunda sensação de alívio e leveza tomou conta de Sofia e ela pode se tranquilizar e entregar-se ao fluxo dos acontecimentos com mais confiança e menos medo.

 

Esta é uma história que retrata o quanto muitos de nós podemos estar diante de situações que nos causam profundo incômodo e até mesmo sofrimento, sem nos darmos conta do porquê. No caso de Sofia, como também com a maioria de nós, captamos, percebemos situações as mais variadas à nossa volta que irão gerar conexões inconscientes com nossos conteúdos internos! Tais conexões acontecem o tempo todo e muitas vezes sem sequer percebermos!

 

O processo terapêutico é um espaço que nos oferece a possibilidade de nos conhecermos mais profundamente e com mais clareza sobre o que reverbera e interfere na qualidade de vida que levamos. Nem sempre o que sentimos e pensamos é óbvio. Nem sempre entendemos porque sentimos e pensamos determinadas coisas.

 

 O olhar de alguém de fora, treinado na “arte” de ver para além do que está evidente, pode nos auxiliar a desvelar, tirar os véus que escondem inusitadas conexões feitas pelo nosso psiquismo. Somos seres plurais, dinâmicos, complexos e ao nos permitirmos nos conhecer profundamente, com gentileza e sem pressa através de um processo terapêutico, poderemos nos surpreender a respeito da riqueza que nos habita e da qual, a maioria de nós, sequer suspeita!

 

Meu convite de hoje para você é: já pensou em descobrir o que existe lá no fundo do seu ser?! Experimente uma terapia, no mínimo você verá ângulos de si mesmo sobre os quais nem imaginava existir ou que nem considerava relevantes!

 

Paz e bem a você!

 

Bia Mattos

Psicóloga CRP 06/29269


Colunista: Maria Beatriz da Silva Mattos

Psicoterapeuta, Supervisora Clínica, Orientadora Vocacional, Facilitadora nos Cursos de Pós-graduação em Psicologia Transpessoal da Unipaz São Paulo e Paraná. Autora dos livros Espiritualidade em Psicologia: Psicossíntese, uma Psicologia com Alma e Orientação Vocacional - Uma Proposta Transpessoal.


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Helena Teresa Garcia Bernardes de Almeida - 27/11/2021 09h25
Bia, que texto verdadeiro. Tão rico, profundo e objetivo.