Eu tenho o direito de opinar, de me expressar, de brincar. E você o de amar, o de aplaudir, de discordar do que eu expresso, de sentir incômodo ou repulsa, de achar horrível e de se posicionar também. O papa se posiciona brincando, o presidente vacila constantemente se posicionando. E você? Pisa na bola que eu sei, em pensamento, em expressão e em ação. Porque eu também piso!

Mas a tolerância que esperamos, nós não praticamos muitas vezes. A liberdade de expressão que defendemos, nós não respeitamos muito, não. Observe quando um ‘deus’ ou ‘comandante’ nosso se posiciona, como nem sempre reagimos com a empatia que exigimos.  Quantas vezes desrespeitamos pessoas quando simplesmente não concordamos, e as agredimos das mais variadas formas, as condenamos, as punimos sem piedade. E assim contribuímos com a repressão de pensamentos, PRENDENDO consciências, incluindo a NOSSA, sem percebermos.  

No dia a dia como repórter - apurando fatos, verdades, conversando com entrevistados, me envolvendo com pessoas, conhecendo todo tipo de ser humano – fui aprendendo mais sobre a questão do respeito. É claro que não gostei de tudo e todos que encontrei pela frente, mas aprendi a respeitar mais, e realmente procurei respeitar. DISPUS-ME A BEBER DE TODAS AS FONTES, a “ouvir sutil e diligente; a ter ouvidos em todos os lugares sem indignação” como sabiamente coloca NIEZTCHE em sua obra “Além do bem e do mal”. Foi assim que tentei nortear meu trabalho e meu caminho na busca pela melhor verdade possível, que eu tanto queria levar às pessoas, e ainda quero. É libertador quando não estamos presos aos padrões de pensamentos dominantes, não apenas em termos de ideias, mas do próprio processo de pensamento. E quando questionamos tudo - respeitosamente - conseguimos alcançar, acima de qualquer coisa, a nossa própria verdade. Apenas deixando SER: o ser autêntico e livre.   

Só que nem sempre é assim. Nossos próprios sentimentos nos ameaçam ou não conseguimos aceitá-los, e nós os reprimimos. Logo vamos acabar projetando em alguém ou algo, pode crer! Acabamos de entrar no terreno da projeção psicológica: é gostoso escancararmos nossas misérias em outra pessoa, hein?! Traz um alívio tremendo, nos tirando de cena, do desconforto das nossas verdades irreveláveis. A gente encontra um alvo mais fácil de lidar: o outro. Ufa! Melhor ainda se ele estiver bem distante de nós e pudermos linchar à vontade online e/ou anonimamente. É praticamente um descarrego!!! Descarrego que eu faço de mim e que fala muito mais a respeito de mim do que sobre o ‘alvo’ da vez. Já parou pra pensar sobre isso?

Poxa ... eu que brinco, que erro bastante, que faço coisas inconfessáveis, e só eu sei porque ninguém, ou quase ninguém, ouviu ou viu. Que sorte, né? Assim eu posso apontar o dedo tranquila, sem comprometer minha imagem, a qual eu tento manter imaculada e, que me permite sentir na condição de poder julgar ainda mais os outros. Toda vez que eu condeno, eu estou negando a sombra em mim e os deslizes em minha vida? Tentando me esconder?  Uau! Tornando-me um pouquinho mais ‘deusa’, aparentemente, e o diabo está no outro, não em mim ... em mim nunca! Aleluia, irmãos!

Eu vou me deparar com colocações que eu considere lamentáveis num primeiro momento? Claro que sim! EU POSSO ACHAR e falar O QUE EU QUISER, e eu posso tudo! Mas nem tudo me convém, como disse o apóstolo Paulo.

Podemos tentar entender um pouco a história, as condições, os limites, o jeito de lidar, que assim como nós, qualquer pessoa tem. Podemos escolher entender os motivos e as circunstâncias. Podemos escolher a empatia e enxergar a mim e o outro como humanos e não como ‘deuses’, impassíveis de erros e, portanto, sem chance de aprendizado. A questão do endeusamento judia demais! Nossos líderes, nossas figuras de referência, nossos pais e filhos, transformamos em superpoderosos, e tudo o que desejamos, lá no fundo, é que eles correspondam ao nosso ideal de perfeição, completando em nós aquela parte que falta.  Nossa expectativa em relação a eles – e ao que idealizamos que fôssemos também - é simplesmente desumana, impraticável.  Quando reagimos de forma muito dura e desrespeitosa, exigindo comportamentos impecáveis que ninguém nesse planeta consegue desempenhar, estamos nos igualando à crueldade daquela ação ou pessoa. Eu vou questionar, vou sentir, vou me ofender, me assustar, me sentir desrespeitada, vou lamentar ... faz parte. Mas ali na hora, pode fazer parte também lembrar -por 1 minutinho -  que em vários momentos eu já ofendi, já passei da conta, desrespeitei, extrapolei, cometi abusos, erros . Eu meto os pés pelas mãos, sim. Acredito e defendo que as leis deem a todos o efeito da causa. Mas posso tentar não me igualar na crueldade, no desrespeito, e no erro. Quantas vezes nossas cobranças e expectativas são irreais, inatingíveis, e muito mais desumanas do que a ‘questão’ em si? Vamos combinar que, através dos nossos julgamentos, condenações e cancelamentos, estamos pedindo para que MINTAM!! Para que nos apresentem rostos, corpos, relacionamentos, opiniões perfeitos e felizes o tempo todo. Assim seguimos nos sentindo atendidos em expectativas ideais, mas nada reais. Impossíveis. Simplesmente por causa da extrema dificuldade que temos em aceitarmos nossa pura e simples condição humana. Não sei enfrentar e rir das minhas mazelas ... imagine das alheias?

Vamos quebrar cadeias opressivas. Vamos nos libertar da tirania social. Vamos ouvir com a mente mais aberta e com mais LEVEZA, porque tem coisa que é só brincadeira mesmo. E tem coisa que não se consegue fazer diferente. É sobre o momento, a história atual e de cada ser. Sobre humildade e mais compaixão.

 Ou então ... vamos continuar brincando de ‘deuses’? Eu minto pra mim e pra você, e a gente segue FINGINDO?!



Por Gabriela Bertoli - Jornalista


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